domingo, 10 de julho de 2011

Pensares (10)

O tango mora na roça
Mazurca na derrubada
Nem a Candinha doida
Dança a valsa pulada.
(Das lembranças de D. Mariquinha)

O que os olhos vêem,
e os ouvidos ouvem,
e o olfato pressente,
e as mãos apalpam,
e o paladar degusta,
a boca não conseguirá contar,
nem as próprias pernas
jamais saberão desandar.

   


Não costumo carregar dinheiro
Nos desvãos das algibeiras.
Carrego, sim, pelo corpo inteiro,
Um roteiro de caminhar a esmo
Mesmo que só dentro de mim mesmo.
Não aprendi a comprar e vender
No varejo, meus bens guardados.
Como caixeiro, sem paradeiro,
Tenho muito ar puro que respirar
Sem parceiros que acompanhar.


Difícil saber, na situação,
Quem tem mais razão,
No viver da solidão,
Se o sábio, se eu ou se você
Ou se aquele saltitante sabiá
Lá encima do moirão.

Um comentário:

Marina Bolfarine Caixeta disse...

Que lindo, pai! Gostei muito da reflexão sobre a memória dos sentidos... Interessante, esses dias meu desodorante me levou de volta a China sem eu sequer saber explicar isso para mim ou trazer o retrato dos lugares a minha memória.