quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Migalhas de Mim (66)

 

O que para mim vale,

de momento,

vale também, para quem

sofre de solidão,

falta de amor, decepção,

lapsos de memória,

carências de sentimentos.

 

Mas... do que vale lamentar

leite derramado,

de omissão,

ou de caso pensado,

se já não se pode reverter o passado,

apagar indeléveis manchas

de panos manchados de danos?

 

O destino é, assim, cruel,

mas não só, para mim,

pecador infiel.

A vida, nisso, é bem camarada,

até mesmo democrata,

para nada faz exceção

nem para folgados magnatas,

de plantão.

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Migalhas de Mim (65)

 

“O tempora! o mores!”

“Si jeunesse savait...si veillesse pouvait...”


“O temps, suspends ton vol!,

et vous heures propices,

suspendez votre cours!” (Lamartine - Le lac)

 

Palavras do Eclesiastes (Salomão), filho de Davi, rei de Jerusalém:

“Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade”.

 

“Um tempo para cada coisa.

 

Para tudo há um tempo,

para cada coisa há um momento

debaixo dos céus:

 

Há tempo para nascer e tempo para morrer;

Tempo para plantar e tempo para arrancar o que foi plantado;
Tempo para matar e tempo para sarar;

Tempo para demolir e tempo para construir;
Tempo para chorar e tempo para rir;

Tempo para gemer e tempo para dançar;
Tempo para atirar pedras e tempo para ajuntá-las;

Tempo para dar abraços e tempo para apartar-se;
Tempo para procurar e tempo para perder;

Tempo para guardar e tempo para atirar fora;
Tempo para rasgar e tempo para coser;

Tempo para calar e tempo de falar;
Tempo para amar e tempo para odiar;

tempo para a guerra e tempo para a paz.”

 

(Eclesiastes 3:1-84 in Biblia Sagrada. Ed. Ave Maria Ltda, 5ª. Ed., 1964, SP. p. 832)


Os tempos eram outros,

pour sûr! Passamos,

mas não sabíamos

como podíamos,

de qualquer outro modo,

deixar de passar!

 

Ignotos, caminhantes,

desconhecíamos, de preparo,

o que não teríamos

de saber nem de poder

ou, por bem equilibrado,

de mais conhecer de tão raro!

 

Carregávamos no peso da idade,

restos de vida vivida, 

a consciência do que fomos,

de tempos, vezes perdidos, 

mas, já, agora, por dever,

a buscar recuperar o devido!

 

Ninguém é profeta,

em seu tempo de eternidade,

como em nenhuns, d´ailleurs,

lugares de nascença.

Do que se presta pensar,                                 

não nos cabe, aqui, reformular.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Migalhas de Mim (64)

 Tristes tempos de morte-covid 

1

Triste pensar

que nem na hora da morte

pode-se contar

com o olhar compadecido

de alguém saído

do mesmo tecido sofrido.

2

Que de mais triste,

que a espera da morte,

a solidão como consorte.

3

Partida solitária,

mesmo rodeada

de gentes solidárias.

4

Morte não me apavora,

temo momentos dolorosos,

rezo por mistérios gloriosos.

5

Por que se tem de partir?

Para desocupar lugar

a recém-nascido singular.

6

A consciência da morte

bate-nos à porta

de recinto solitário.

7

O que se passa em minha cabeça,

não é da ciência de ninguém,

quando muito, do Além.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Migalhas de Mim (63)

 

O poeta fantasia

com metáforas, comparações,

joga a qualquer tempo,

no jogo duplo, como Jonas,

no esconde-esconde

de palavras brincalhonas.

 

Sonhos incitam prazeres,

sem dever de obrigações,

provocam emoções diversas,

ambíguas, controversas,

sentidos poliversos, reflexos

de fazer e de desfazer reversos,

corações em borbotões.