sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Cantos e des(encantos) 2




Apesar deste meu algo doado

terno, desta minha cá puxada

barba alva, deste nó enlaçado

na gravata, deste vago olhar

de circunstância, não me en-

quadre, por  favor, não  me

confunda, não me amole, não

me amarre, não, não me enrole

neste qua-dri-lá-te-ro social !



    


                                               


             (Souvenir)



Dessas quantas andanças

estâncias de errâncias

trago-te de lembrança

ao menos o sorriso

guardado fielmente

em instantâneo indeciso.


Reparte-o com figuras tristes

tais forçados convivas

da sorte e da lenta morte

que sempre insistem

em tantas portas

ainda, felizmente, vivas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Cantos e des(encantos) 1

(Abro gavetas, busco guardados do passado. Assim, estes textos que ora dou a conhecer aos meus amigos, fiéis leitores, que, caso tivessem sido publicados em livro, trariam o nome de "Cantos e des(encantos)". Vou entremeando textos dos tempos, uns de antes de ontem, outros de ontem, e alguns de hoje, ainda frescos, que me permito, ou o blog me permite, ir modificando a cada leitura, pois que nunca ficam prontos, de vez, definitivos. Os leitores é que normalmente modicam, à sua maneira, o texto, a cada leitura. O autor, também, é co-autor, leitor de si mesmo, mesmo torcendo o nariz, e achando que tudo poderia ser diferente, descontente por natureza e dever de ofício. Assim sendo, vou tecendo meus conflitos e cutucando meus leitores, pois que, segundo Lin Yutang, em "L´importance de vivre", "Un écrivain, après tout, désire être lu".)



Recado


Poeta,

revela o simples,

simplesmente.

Não vede o belo ao homem comum.

Poesia sugere ambivalente linguagem

"condensada até o máximo grau possível".

Insinua, sintetiza, poetisa.

Imagens sutis não a afasta do vulgo.

Lamartine:"La poésie va se faire peuple".

Pound: "Literatura: novidade que permanece novidade".

Proclama como valor o novo

Com simplicidade

e ... nova mente

para o povo!


            

 


Dos sonhos, Musa, amiga da noite,

permita-me também rabiscar meus desencantos

sonhar meus diversos mundos

desvendar a tempo meus segredos

enquanto a luz do dia e da certeza

adormecidas nas árvores e prédios

destas frias quadras de Brasília

não afugente minhas lembranças!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Novos pensares 11



Itália pro posteridade,

monumentos em poeiras,

sob vistas cansadas.



(San Pietro sotto pioggia)

Formigueiro humano,

filas de guarda-chuvas,

dilúvio de fé.



(Ilusão de olhos)

Não são cumes gelados,

cúmulos-nimbos

amontoados.



“Todas as direções”,

saída de cidades,

soluções de enganos.



(Vale d´Aosta)

Montanhas escondidas

por detrás de nuvens

de passagens, passageiras.



Mont Blanc,

cavidade trespassa,

túnel intrínseco de gruyère.



(Museu)

Famoso por ser famoso,

riscos de riscos

pouco inteligentes.



Arte consente

olhares indiferentes,

já outros apreende.



Onze mil metros

acima da razão,

medo viaja de avião.



Antes de ninguém,

mentiroso conhece

toda a verdade.



Mormaço,

bafores quentes,

sabiá chama chuva.



Poeta expressa

alma secreta,

atividade incompleta.



Depois da noite,

a luz do dia,

da cruz à alegria.



Cenas de caça,

caixa de chapéu inglês,

lembranças de criança.