sábado, 28 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (95)

Se a vida é fácil,
as vontades fracas,
os corpos frios,
soçobram ânimos, 
restam desânimos,
que silenciam cios,
em mais desafios,
de correr os anos.

Intolerante nonada
desorienta a manada,
empunha berrante,
extravagante, o bastante,
em altos berros e brados
de vida na estrada.

Fragilizado, o vivente,
já no final da linha,
arrasta chinelo
atrás da abelha rainha,
de pires na mão,
para ouvir o sermão,
de irremediável rinha.

   


No movimento dos seres
só restam momentos.
Instantes insistem
em alegres e tristes eventos,
a boiarem no alguidar
dos tempos persistentes,
das águas das incertezas,
que não se deixam, à mesa,
sorver na ligeireza das correntes.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (94)

Deus sempre estará rodeado de mistérios,
incompreendido dos homens,
inabilitados a compreenderem,
no estágio atual das mudanças,
o sobrenatural das substâncias.


 

Quanto tempo ainda restará aos humanos,
para o plantio da semente fecunda,
em outros planetas, bem distantes,
antes que este, também, se afunde falido,
como outros mundos por circulantes,
por demais efêmeros e inconstantes?




Corações compadecidos
têm sido, assim, de ocasião.
Muito pecador arrependido
vem sendo destorcido,
na provação de torrão
                   empedernido.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (93)


Quis o Destino
nascêssemos peregrinos,
em terreno pequenino,
de família desigual,
sem qualquer sinal
de fato divino,
expostos a desatinos
multivitelinos?




Idéias não se concebem soltas,
nem se manifestam revoltas,
amontoadas sobre folhas,
umas sobre as outras.

São cadeias de consciências,
destiladas do conta-gotas
das experiências da ciência
mal saídas de dedos e bocas.




Tudo, no mundo, é sentido,
tudo é inquieto, remexido,
tudo, no fundo, é confundido.

Até os mínimos sentimentos,
às vezes, são incontidos,
e, no foro íntimo, invertidos.

sábado, 21 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (92)

Por que morrer,
sem sequer conhecer
ínfima parcela de grandeza
da Natureza?

Ao menos se soubesse
haver outras certezas
de que mais se carece!
Mas, é-se tão incapaz
de as encontrar jamais!





Insaciável, o homem busca 
Harmonia universal,
espalhada no cosmos
profundo.

Pouco importa o mundo
da desatada ousadia,
da procura penosa
e fria.




A verdade existe mesmo,
de verdade, 
aos olhos do homem total
(com ou sem letra versal),
jamais da perspectiva de Deus
insondável em seus mistérios
dos céus.

A verdade sempre será relativa,
quando buscada de forma bruta,
na veracidade absoluta.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (91)

O de que a gente mais gosta
é do imprevisível.da aposta.

O possível perdeu a graça
de que logo se cansa e desgosta.

A conquista é nosso destino.

Quanto menos alto se eleva,
mais se quer alcançar o pino.

Extenua-se em sempre tentar,
                   sem tampouco descurar o tino.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (90)

Dos grilhões das prisões,
saímos achatados.
Dos conformes, disformes.
Dos fatos, hiatos.

De uma coisa estejamos certos:
nascemos desiguais.
O que nos molda ou esfola
são os variados tratos.
da lida diária, como escola.




A existência humana
são posições de oposições.

Mudem-se os planetas,
as escopetas, as baionetas!

A perfeição se faz no cadinho
das disparidades exegéticas,
nunca nos desacordes vis
das exigências dos caretas.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (89)

A venda que veda da Justiça
a vista,
de longe, larga parece,
de boa espessura,
feita de negro crepe,
mas ressalta da orla escura
o negrume,
pois bem menos enxerga o indigente
que a procura ao lume.



Atenção!
Acorram, todos
os injustiçados!

Os senhores do poder
vendaram
os olhos da Justiça!

Agora, ela só olha
e enxerga,
injustamente!

Injustiças são dispensadas,
graciosamente,
na cobiça, somente
a pobres carentes.




A Justiça, quando desce
de seu pedestal de lápide,
ou sede,
se despe do véu de crepe,
e enxerga conflitos na plebe.

Mas se sobe os olhos
ao céu,
menos descobre labéu capital,
de olhar obnubilado, sepulcral,
qual vestal de vil metal.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (88)

Nas viagens à inexistência do tempo,
uns tardam, outros avançam,
uns nascem, outros crescem e se amansam.

Se entardece,
ninguém se esquece
de que juntos viajam.

Se param na estalagem,
refazem a matalotagem,
até as próximas paragens.

O cansaço existe, e os reforços mais.
Na sempre ida,
não há revoltas na vida.




Nunca os encontros serão casuais,
porque sempre haverão de levar 
a ocasiões de somar a mais ,
no grupo do contínuo caminhar,
rumo ao infindo infinito dos ideais.

Reunir-se a mais gente, esporadicamente,
será engrossar inesgotáveis mananciais,
no contínuo curso das águas correntes,
que nunca haverão de furtar a rota,
para chegarem a almejado lagamar.

No caminho dos peregrinos, os revezes
haverão de ser os prazeres do conhecer
os eternos convivas caminheiros,
comensais de sempre novo viandar.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (87)

Empunhados punhais,
Porções de infidelidades!
As há? Será? Por quê?
Quem não as cometeu,
Ou não as muito sofreu,
Ou, então, não as sofrerá,
Ou não as mantém,
Sendo delas refém,
Em fatos, em fotos,
E... para sempre, amém?
O que mais importa pensar
Em amores antigos,
Ou, mesmo, em sonhos tocá-los,
Ou, dormente, revisá-los,
Ou, no íntimo, revivê-los,
Ou, desperto, reavivá-los,
Em acalentados devaneios
De desvelos, e mais anseios?
O que ainda conta no amor guardado
É amar sempre mais profundamente,
E, se, à flor da pele, floresce,  
É porque está sempre latente,
À espera de mais profícua messe.
O fruto do amor vem da flor, de cálice e corola,
Como estilete, estigma, estame, pistilo, dor.
De fora para dentro, em movimentos,
De dentro, em sentimentos, pra fora.
Primeiro o amor a/flora, e rasga,
De/flora, como se faca fosse,
Exaustivamente, cúmplice,
Para, depois, brotar,
Veladamente, só,
Inconsciente,
Na gente.
, sim,
Amor
Hav
er
á.

domingo, 8 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (86)

Todos vivem completos,
ora pouco, ora muito,
mas bem exatos,
no tempo certo.

Nãonem mais nem menos,
nem somenos, no geral do trato.
Nem menos calor,
nem mais amor,
para o detentor
de um mais colorido retrato.

Se fosse assim, desigual,
o que seria de uns e de outros
no conviver social?
Com o apagar das luzes,
todos os olhos se fecharão
na escuridão total do chão.
Cruzes!

sábado, 7 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (85)

(Sábio)

Que desperdício:
o sábio morrer,
assim, tão no início
da pró-cura do saber!
Razão de viver,
ócio de ofício?

Ao morrer, antevê,
de tão mago,
como pôde ser vil
o magno,
porém amargo,
saber servil.

De inteligente,
finou indigente.
Teria, com sorte,
adiado,
no átomo de si,
a própria morte?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Pensares a conta-gotas (84)


O que vale o homem,
além do nome,
e da fome ávida,
que o consome,
ou da bomba grávida,
que, de acidulada,
o carcome?




O que é a humana natureza,
que frieza conserva,
sem qualquer grão de certeza,
como sinal de aval
de sadia reserva moral!

Nenhuma crítica se faz
a quem não é capaz
de um pequeno favor,
mas desprezo se reserva
a quem não se presta
a mínimo abono a mais!