História de rio e mar
(de
Guarajuba e mais beira-mares / 3 a 9/2/17)
Este rio não é, assim, tão longo e
largo,
tão só risonho ou mau humorado,
mas, sedento de espaços,
acontece ter ímpetos irados.
Inúmeros fios d´água o alimenta,
de chuvas ou veios de solos pedrentos,
nasce em montanha de pouca monta,
e chega, sem saltos e barrancos, solavancos demasiados.
Corre ora ligeiro, ora pausado,
sem parecer cansado, brinca com
peixes miúdos,
briga no desgaste de pedras agudas,
que ousam cortar-lhe caminho traçado.
Amealha substâncias ricas, de provisões,
lava cascalho nas águas enrugadas dos ventos,
avança resoluto, absoluto de tempos milenares,
por meandros e distâncias de chãos diversos.
Carreia terra misturada a correntezas
barrentas,
derrama lamas pelas margens e
banhados,
onde crescem ramas de densa floresta,
e espelha céus de poucas nuvens e muitos
pássaros.
Já perto do mar, os entretenimentos,
mangues fervilham criaturas de pernas peludas,
arbustos arqueam esqueletos esquisitos, extraterrenos,
para efeito de dar vazão a sedimentos.
As águas, enquanto isso, de
mansinho, se adentram no mar,
(enorme e barulhento, guardador de
mistérios profundos,
tudo, ali, é sério e raivoso, colosso,
tenebroso, barulhento,
prodígio de gigantes, sem conta).
O mar é gordo e guloso, sua fome tanta,
que tudo come, engole de pronto, ligeirinho,
confundindo lodo com areia,
e envolvendo o todo de sal marinho.
Dali pro fim, o rio não é mais rio,
marginado,
são arcos coloridos de alvuras e
espumas,
texturas de verde e azul em fundos
infindos,
nesgas em telas de cinza e sangue
derramados.
Lá, bem longe, o céu aperta de abraços horizontes imensos,
e brinda olhares fugitivos com mais amor, menos dor e danos,
porque o riomar ensina humildade, cheio de graças,
ao ser humano, ameno, bem frágil e pequeno.