segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Migalhas de Mim (79)

 

Paraíso Esperado

O Deus dos moradores de planetas,

a ene anos-luz daqui,

não fez ali Adão de barro,

Eva de carne e costela recém criada

e serpente guardiã de maçãs

envenenadas de pecados originais.

 

Ali, os jardins são menos densos,

sem árvore do bem e do mal

de frutos proibidos e punições

regados a suores de inapto rosto

a amassar pães, sem muito gosto.

 

Dali praqui, vão chegar num átimo,

em carros de luz ou pensamento,

gentes desprovidas de si,

cheias de graças, para nos guiar,

peregrinos insaciados, sem pecados,

por um caminho de tapetes de seda,

sem pedras agudas nas alamedas.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Migalhas de Mim (78)

 

Senhora de tantos lamentos!

 

Senhora Aparecida, ressurgente,

santa negra nossa, negra santa,

do rio de lamas resgatada,

desnuda das águas e ramas,

em longo manto de azul vestida

de tantas graças, de muitas vidas,

proteja-nos de forjadas falácias,

que nos invadem de todos os lados

e nos ameaçam de todos os cantos,

e nos fazem mais crentes que santos,

bem menos prontos, imperfeitos,

carentes, que suplicantes penitentes.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Migalhas de Mim (77)

 HÁ MAIS MUDANÇAS no ar, que...

 

Mudam-se alfabetos e mais letras

alfas e betas

ômegas, deltas e zetas

kás, ipsilones, dáblius e tretas

de cometas, carrapetas,

até caixetas!

 

Mudam-se os ás, asas, ases e ares

andanças, ágoras e agoras

amores e amares.

 

Mudam-se os ês, entes e essências

erres, erros e êxitos

eles, elas, enésimos, elementos e esmos.

 

Mudam-se os is, ir e iris

idas e idéias

instantes, imos e iras.

 

Mudam-se os ós, ócios e orlas

ora-oras, ôis, ocas e ôlas

ora-pro-nobis e olores.

 

Mudam-se os us, ufas e úngulas

usos, uvas e ultras

uns, umas, urtigas e ultrajes.

 

Mudam-se os bês e bebe-bebes

bases, batas e bares

beijos e berçários.

 

Mudam-se os cês e céus

caras, caretas e chapéus

cascas, castas, costumes e cores.

 

Mudam-se os dês, dados e disse-me-disses

diches, dichotes, dares e dores

deveres, dinheiros e dicionários.

 

Mudam-se os efes, efemérides e fogos-fátuos,

festas, fatos e fortes

frequências, feitos, feitios e frentes.

 

Mudam-se os gês, gessos e gestos

gastos e gostos

gens, gentes, guerras e guetos.


Mudam-se os agás e hangares

horas, hortas e hortênsias

horrores, hostes, hastes e horários.

 

Mudam-se os jotas, jogos e jás

jugos, joaquins, jatos e jovens

jus, juízos e judiciários.

 

Mudam-se os eles, lãs e lilases

luvas, lírios e lares

laçadas, langanhos e lagares.

 

Mudam-se os emes, meses e mins

mós, múltiplos e mudanças,

modas, mudas e moldes

marcas, máscaras, mares e maus momentos.

 

Mudam-se os enes, números e nadas

nós, nozes, notas e normas

natas, nesgas e novecentos.

 

Mudam-se os pês, pés e perneiras

pesares e pensamentos

pás, pazes, pós, pares, prós e próximos

portos, partos, portas e porteiras.

 

Mudam-se os quês e quereres,

queijadas, queijos e quejandos

quesitos, questões e questionários.

 

Mudam-se os erres e reses

retas, rotas e roteiros

rebeldes, rebentos e resistências

revezes e reverências.

 

Mudam-se os esses, sós e sofrimentos

setas, sementes e sossegos

sistemas, santanas e sentimentos

sus, sustos, sibilas, sussuros e segredos.

 

Mudam-se os tês, ti-ti-tis, todos e tudo

timbres, tantãs e temores

terras, tremores e tempos.

 

Mudam-se os vês, vires e veres,

vezes e verdades

vertentes, voos e valores

voltas, vozes, vidas e vindas.

 

Mudam-se os xis, xixis, xôs e xotes

xales, xarás e xerifes

xícaras, xaropes, xucros e xaxins.

 

Mudam-se os zês e zás-trases e Zêzere,

zangas, zecas e zarolhos

zunidos, zéfiros, zunzuns e zumbidos.

 

Mudam-se, de um tudo, o todo, o mundo,

os muitos e os poucos zelos,

muda, da alma, a calma morna,

o ânimo que rima com imã

e anima no desenrolar do novelo,

quando, às vezes, na vaga da cisma,

de déu em déu, levanta-se o véu e mais desmazelos,

pela larga dos espaços, em compassos e desvelos,

infindos céus se espelham em Deus.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Migalhas de Mim (76)

 

Preciso, às vezes, esvaziar-me

de pensamentos,

esquecer-me de mim e do que faço,

adormecer meus traços de cansaço,

para que não durem demorado

no abandono do sono,

nos vagos espaços do mundo uno.

 

E, quando sói carregar-me nos braços,

do mormaço do Éter,

mais por injunção que por clemência,

ainda, assim, mais me embaraço,

em passos de carências de essências,

que se entrelaçam,

em complicados sonhos de antanho.