sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Migalhas de Mim (107)

 

Um texto em prosa,

informativo, se veste de poema,

desprovido de poesia,

sem deixar, contudo, perder

o interesse da leitura,

até pela alta envergadura.

 

A recíproca é verdadeira:

o texto poético, figurativo, 

se veste, às vezes, de prosa,

sem perder interesse e beleza.

Questão de natureza, vestimenta,

roupagem, aparência, verticalidade,

ou grandeza.

 

Textos que se querem modernos,

de versos brancos ou menos alvos,

verticais na aparência,

mais se prestariam a se deitarem

na horizontal, sem mudanças

nas concordâncias, 

na essência de original.

 

Tome-se “José”, de Drummond:

“E agora, José? A festa acabou,...”

O que conta é graça,

em qualquer modalidade de Arte,

é a satisfação do eclético leitor,

que a repercute, a posterior.

 

Lembra-se Cesar, o Augusto:

Vim, vi, ouvi, comi, cheirei,

gostei ou não gostei.

Daí, falarem em Arte

produto de consumo,

seja na extensão ou no resumo.

sábado, 15 de janeiro de 2022

Migalhas de Mim (106)

                            

Escritura automática,

escrever sem muito pensar,

sem precisar de entendimento

ou explicação sistemática.

Cada um que entenda o que quiser,

à la légère, ao vento do momento.

 

Uma abóboda dependura-se da matriz,

quando segue pro firmamento,

jogada no espaço estelar,

sem um pingo sequer de chuva

no asfalto vaporoso de cinzento

das ruas de muitos percorreres.

 

Um elefante para no andar,

guiado pelo derretimento do ex-barro,

que decorre da inclemência do sol,

no meio do dia mormacento

e  d´outros instantes de mais agonias

depravadas.

 

Absolvo-me desses pecados mortais,

que me acontecem, às vezes, pecar,

depois de muito rezar ao deus dará, 

quem diria!

como condição de me arvorar em santo,

eterno criador de ladainhas repetitivas,

Pater Noster, Salve Regina, Ave Maria!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Migalhas de Mim (105)

 

A poesia não quer saber de explicação

e não carece de entendimento?

Fosse assim, não existiriam encantos,

mistérios a se perguntarem,

perante os céus nevoentos?

 

Vale escrever sem muito pensar,

deixar as palavras chegarem,

sem pedirem licença,

entrarem na sala, atravessarem o salão,

irem à cozinha, sem abrirem portas?

 

Tomarem café, sem açúcar ou melaço,

sem se preocuparem com sabor

e odor de pó recém coado,

ou do terno novo, às pressas comprado,

de se apresentarem desavisadas ao povo?