segunda-feira, 28 de maio de 2018

Nuvens Esparsas (91)


Muito mais gestos, ainda,
poderia ter feito
de maior proveito e mirada,
não fosse esse jeito indolente
de pensar demorada-mente.

Coisas acontecem, é certo,
quando têm de acontecer,
e tenho que acomodá-las
a esse modo intransigente,
de pensar introjetada-mente.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Nuvens esparsas (90)


Atomizados

Que mistério esse, que se traduz
em pessoas que vão e voltam,
radioativas, atomizadas, puras,
imagens e vozes, 
que não se desfazem, nas alturas!

Ventos cósmicos, assaz velozes,
levam e trazem, em momentos,
sons, timbres, tons, trinos, zunidos,
num zás-trás de magias, 
ondas contínuas!

Por que, então, milagres de Jesus
também não voltariam dos páramos,
muito, muito além da velocidade 
de átimo, de um co-risco, 
ou de pensamentos-luz?

terça-feira, 8 de maio de 2018

Nuvens esparsas (89)


O corpo, já não me sustenta,
recusa-se a seguir-me os passos.

Deixá-lo-ei, aqui, fatalmente,
a me desesperar, quando voltar,
sem mais o encontrar,
em pó desfeito e esparso.

O ir e o vir, por aí,
costumam endurar os tempos.

De que posso me lembrar,
por impossível na existência,
e decurso de oportunidades,
ou falta de recursos da essência?

Sinto-me mais leve que a neve,
só de pensares inconsistentes.
  
Juízos não me deixam ocasiões
para interrogações, decisões abalizadas,
interjeições repentinas, modelos precisos,
a me levar e trazer de prometidos paraísos.

As eras sempre são de esperas,
mais curtas e sem mais idades.

Ando de imposições, ou necessidades.
O aprendizado, por solitário,
deixa, quando muito, indícios de registros
em diários de secretário.

Lamento inexperiências,
com itinerários mal traçados.

Sou ainda do curso primário,
aprendiz sem diretrizes,
de escolas de vidas, sequenciadas,
ainda a vagar em estados precários.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

nuvens esparsas (88)

Meta-morfoses

No fundo, sou expectante da certeza,
de mais passos, longos e largos,
medidos a espaços de anos-luz,
de desconhecidos lugares e terrenos,
por onde ainda haverei de vagar.

Aprendi a andar meditativo,
a olhar para frente, e os lados,
a não perder o rumo dos chãos,
a fugir de barrancas cavoucadas,
a evitar erros, quedas precipitadas.

Busco lugares serenos, amenos,
aclarados a luzes de luas calmas,
e estrelas de maior fosforescência,
firmamentos menos tensos,
e céus de mais transparência.

Vislumbro horizontes mais extensos,
sem perder o prumo e o equilíbrio,
apoiando-me constante nos arbustos,
para não titubear, como embriagado,
sobre pedras agudas de descampados.

O que mais me importa será chegar
a algum lugar hospitaleiro,
onde possa enxergar com mais clareza
o que procuro, com grande apuro:
conhecimento edificante e maduro.

Ouso me encontrar por inteiro,
de mente e juízo verdadeiros,
e corpo fortificado, e obediente
a ditames de estáveis congruências,
e certames de últimas urgências.