segunda-feira, 10 de março de 2014

Pensares a conta-gotas (285)


A mulher procura amor,
o homem mais amor e sexo.
Ela quer nexo nos contatos,
ele finge mais, no ritual
de atos complexos.

A mulher se dissolve em afetos,
para dar conta do sexo completo,
o homem se liga menos a gestos,
se contenta a calor de amplexos.

Do enlace do raso e do profundo,
do divino e do mais profano,
resulta o mundo, humano e fecundo,
de duas mentes, dois juízos,
de dois desejos conexos,   
ímpetos e suaves sentidos:
um, de doação repleta de amor,
outro, também, de amor, comedido, anexo.




Quando posso,
ponho-me a pensar,
e me trespasso,
estático, estético,
e-nig-má-ti-co, emotivo,      
sintético, cômico,
trágico, até patético,
me acho.

Quando penso,
ponho-me a andar,
paro e passo, me revezo,
cruzando eixos, dialético,
ora sincrônico, ora seletivo,
ora sin-tag-má-ti-co,
ora pa-ra-dig-má-ti-co,
sempre a pé, pe-ri-pa-té-ti-co.

domingo, 9 de março de 2014

Pensares a conta-gotas (284)


Versos brancos, brandos,
ou bambos,
(o que importa a largura
de pernas e pés?)
de rimas escassas, pobres ou ricas,
sem precisão,
de menos flores, mais ardores,
mais  emoção,
soltos e livres, como nos abraços,
fortes ou lassos,
são o que de melhor ainda faço,
e desfaço e refaço
a cada leitura, de ocasião.



Dos pingos e respingos  
destas bagas, em estrada poeirenta,
caídas, como já outras,
e mais outras a bem molhar,
recolhe-se o barro,
com que se emoldura textos,
de consistências várias,
como em muros de ousadias
por querer chamá-los de poesia.

O poético, como a poeira, os ventos,
nascido de caminhos diversos,
íngremes, curvos, suaves, retos
paira acima dos invólucros das letras,
das tintas fracas ou das fortes cores,
para servir a todos com alma lavada,
os que dele se julgam merecedores.


quarta-feira, 5 de março de 2014

Pensares a conta-gotas (283)


Ladainha do medo
 
Viver o medo,
Viver de medo, com medo
Vivenciar o medo
A cada segundo, a cada minuto,
A cada apontar de dedo.

Medo de viver
Medo de morrer
Medo de não achar
Onde se esconder

Medo de ser
Medo de sair
Medo de chegar
Já de tarde
Ou já de manhã cedo

Medo de viajar, de falar,
Medo de saber
De estudar,
De se perguntar
Na filosofia do medo.

Medo pelos seus,
Medo per si,
Pelos teus, pelos nossos,
Pelos filhos deles
Que se desconhece
Se vão chegar.

Medo de tentar amar
Medo de dar, de se entregar,
De não se poder aguentar,
Medo de ignorar o que há
Do lado de lá do ar

Por que tem que ser assim,
Por que sempre foi assim,
Por que sempre será assim,
Por que medo de mudar?

Medo da insegurança,
Da violência gratuita, fortuita,
Muito medo mesmo
De não se poder enfrentar.

Como é que se conseguiu
Andar até aqui,
Nesse atual momento,
No convívio do delinquir?

Viver foi, é e será um perigo
À procura de abrigo seguro
A se debater consigo
Se é humano o reflexo
Esse mundo desumano
Injusto, desigual e dissoluto
A mais dissolver o absoluto?

sábado, 1 de março de 2014

Pensares a conta-gotas (282)


Haicais fingidos 25

Por que não sou
como quem admiro,
e me pré-firo?


Em três letras
me resumo:
uno!


O jota me inicia:
inovo, por ironia,
numa postura de ovo.


O esse de uma santa
me protege,
e levo como Ana.

 
Em dois prenomes
em caixa me resguardo:
Êta!

 
Não me aguento:
ou me seguro,
ou me arrebento.


Sou leão solitário,
apareço vivo
e sectário.


Não nasci vestido,
fui pescado nu,
em Brejo Comprido.


Enxergo invertido,
me vejo no espelho,
comum desejo.