terça-feira, 22 de janeiro de 2019

O último copo d´água

(Do livro "Poemas do For(n)o íntimo", 2009, texto mais do que atual, em tempos de Davos.)



O último copoágua será sorvido
pelo último magnata sedento
do planeta.

O último balão de oxigênio será inalado
pelo último rebento de magnata
do planeta.

O último grão de cereal será real
na boca descomunal
do último comensal magnata
do planeta.

A última nau estelar será tripulada
pelo último proxeneta magnata
do planeta.

Um último fugitivo da hecatombe final
não será um pobre esquálido perneta
muito, extinto,
no planeta.

Os labirintos inclementes da falência
engolirão as guerras da sobrevivência
sem som nenhum de trombetas...