terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Nuvens Esparsas (12)

Adiantado da noite,
reles aranha segue,
decidida rota ignota.
De repente pára, 
parece repensar o roteiro.

Seguia seu curso,
e, simplesmente, retrocede, 
refaz caminho,
de onde vinha.

O que fez, bicho ínfimo,
mudar, assim, de decisão
em seu que fazer de tradição?

Acaso deixou interesses,
esqueceu algo importante,
um recado, talvez, para um dos seus?

Instinto animal
nada faz consensual,
conserva lugar nativo,
e tempo digestivo.

Por que humanos, seres insatisfeitos,
não lutam só pela sobrevivência,
e não renunciam a dinheiro, vaidade,
desmantelos, como modelos, sem precisão?

sábado, 19 de dezembro de 2015

Nuvens Esparsas (11)

Enxerga-se, às vezes, pequeno,
não se dá o devido valor,
mais se duvida de si!

Triste sina, triste figura,
ser obrigado a falar e falar,
quando necessário seria se calar!

Para melhor se conhecer,
o silêncio deveria satisfazer,
sem nunca se fazer anunciar.


x x x


De verdade,
falta-me vontades
de revelar, bem ou mal,
feitos benfazejos,
para essas gentes indiferentes.

Quando muito,
rabisco incertos acenos 
e titubeios de palavras,
insaciáveis desejos,
mesmo que de efeitos efêmeros.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Novos Pensares (15)

Estado de graça,
frágeis poemas
vão à praça.

Nada mais sou,
solzinho ínfimo,
universos paralelos.

De expressa vigília,
para uma escuta
de galo, na madrugada.

(Manuel de Barros)
Insignificâncias,
tarecos, cacarias,
poemas de ninharias.

Quando quiser,
me chame,
que já voo, indo.

Essa é boa!
Você me fazer rir
de coisa à toa!

Vespas moram de graça,
de igual sorte
da gente de casa.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Novos Pensares (14)


Coisa de louco incontido,

prega-se em celular,

sem se descolar do ouvido.



Tiradas e retiradas,

contas proclamadas

de descrédito.



(Engraçado)

Impressão que se tem,

não há ninguém

de seu lado!



(Dizer)

Por que sempre digo?

Antes me calasse comigo

do que apenas vejo.



Gesto uma noite a mais,

para me recrear

com canto de galo.



Mistérios,

rosários de pontos

de interrogações.



(Para M. de Barros, das inutilidades)

Uso de engenhoca

de conversar segredo

com minhocas!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Novos Pensares (13)


Segundos, minutos, horas,

dias, meses, anos após anos,

tempos de maturação.





Pesares na saída,

alegrias na chegada,

idas e vindas infindas.





Meu eterno viver:

infinita fagulha,

fragmento de estrelas.





Esconjuro idade,

tempo passa,

vou ficando indefeso.





Cupim cria asas,

voa por precisão.

No resto, sôfrego, rói.





Depois das núpcias,

tanajura desasa,

vira comida de crias.





Falenas só vivem de dia.

Que ideia fariam

do negrume da noite?

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Novos Pensares (12)

Marimbondo é da paz,
até se acostuma com voz
do dono da casa.

Morcego, sossegado,
chupa fruta,
no aconchego da gruta.

Vagalume faz festa
à prima chuva,
acende luzes da testa.

Cigarra passa vida
no escuro,
sai à luz por amores.

O que for será,
não há como reverter
partida pré-concebida.

Ancião antevê
final da estrada,
sem poder voltar atrás.

Mais vale um vale verde,
que lamas e lambanças
da Vale de lâminas.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Cantos e (des)encantos 14


(Ofício)

Vivo e rabisco
água, fogo,
terra, vento
todos os elementos
e do tempo o esquecimento
quedos ficam, assim,
meus todos momentos.

Rabisco ações, lugar e tempo
todos os espaços
num só rabiscar
o tudo rabiscável.

Jogo chapisco de rabiscos
nos muros do mundo
nas paredes da vida.

Rabisco como antes  já rabiscava
inspirando-me em olhos de bichos felinos
rabiscadores e corisco-rabiscantes.

Rabisco e transfiguro riscos
e mais espalho rabiscos no caminho de quantos
a ver se também podem rabiscar.
Mas... sei que não rabiscam vitalidades
com medo do rabisco sair torto.

Não temo meus rabiscos
pois que continuo rabiscando.
Temo sim a incerteza
depois de tantos rabiscos.
Receio rabiscar incêndio
que queime os muitos rabiscos
que ainda persistem
qual estopim, dentro de mim.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Cantos e (des)encantos 13


(Projeto e pretexto)


Até onde o poema
de onde parte a prosa
verso, prosa
pouco importa
importo pouco
viva à poesia!

Desconheço fronteira
soleira de porta.
Meus recados, dou-os ao tempo
finco esteio sem fôrma
mensagem sem margem
de forma vivida.

Arte arrancada e sofrida
árvore de cerrado mirrada, retorcida
despojada de adereços e verve
dissecada no fogo relâmpago
incendiada, enegrecida na casca
viva no cerne.

Meu texto
sem endereço certo
é pedra rolada
sem lima e sem rima
nas águas e re-voltas
dum rio.

Não o amolo em escola
aqueço-o
no magma 
que ferve dentro de mim.

O inspirado poema
o inusitado do verso
o mistério da alma
o enigma da vida
a verdade do eu?
Revelar posso?

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Cantos e (des)encantos 12


No ar dessas gentes

viventes à minha frente

sempre a indiferença

ao mais tímido aceno

de verdade,

de ser essência.





 





Insano, sandeu

jogue fora probidade

desperdice à vontade

compre morte de graça

de compatível porte

com sua carne mole

bêbada, frágil carcaça!

sábado, 28 de novembro de 2015

Cantos e (des)encantos 11


O que mais na vida conta
do que
o que conta a vida?

Não fazer de conta
viver sem medo
dar desconto à dor
respirar de cor o novo
e recontar o amor.


            



Fácil não é
nunca foi
nunca de ser será
esconder-se de si
fazer de conta.

Falsidade não existe
pronta!

sábado, 21 de novembro de 2015

Cantos e (des)encantos 10


(Paisagem)

Como se aportasse n'outro planeta

sem mapa, bússola, ou luneta

exploro-me por dentro,

paisagem alagada e sem margem,

para assistir-me sozinho no centro,

ao relento.



Procuro nesta vastidão de céus sem cantos

minha própria imagem perdida

que me descortina o indefinido

de minha sina.



Neste largo vazio sem reta nem rota

nãocomo me ocultar

se quem chega sou eu em derrota

que nem  reconhece o lugar

onde a porta?



              


(Fugas)

Insisto-me na larga do viso

entrego-me à loucura de improviso

da caminhada irreversível e dura

de um sonho in-verso.



Esqueço-me das gentes daninhas

insignificantes transeuntes do ganho

a se apagarem no mapa vazio das guerras.



Evado-me de mim e desse mundo tacanho

volatilizo-me no espaço sideral sem fim

perco-me no tempo profundo

calo-me impotente

perante a postura infame

dos pré-tensos donos de vidas.



Diluo-me no mar dos esquecidos

náufrago sou descontente com tudo

ainda provido de mente e juízo

e, assim mesmo, continuo mudo!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Cantos e des(encantos) 9





(Limitação)

                                                          



O que de mais desgosto

do que a certeza

de se saber cercado

de espaço e tempo

limites sem fim

que me permitem

o voo azado e livre

para além de mim?

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Cantos e des(encantos) 8


(Prisioneiro de mim)



Condenado ao movimento

observo a vida em voltas

nas árvores que não param

de folhear o vento.



Da janela, um homem

corre atrás de si, atrasado

sem se saber demente como eu

prisioneiro do tempo.



Para das fronteiras azuis vazadas

o vazio, o vácuo perpétuo, a infinita escuridão

o desconhecido me convidam

à uma viagem sem destino certo.



Olho fixo os pássaros

que fatiam o ar

pressinto um calor de liberdade

um ensejo que não é mais prisão.



A vista cansada

a memória esgotada

a marca na alma

um mal traçado currículo.



Viverei em longes sóis e estrelas permanentes

de luas a se revezar em céus multicolores

um lugar qualquer nos espaços ilimitados do mundo

estará a minha espera após a morte, de novo à vida.



Sonho e não sei sonhar

vivo sem saber viver

a força de tudo depende de mim

que preciso alcançar o fim do sofrer

                                          para merecer a justa coerência dos sóis.