segunda-feira, 27 de julho de 2015

Nuvens Esparsas 6


Vêm chegando os trovões,
acompanhados de tremores,
de luzes e sons ameaçadores.

Ventos empurram nuvens
pesadas e escuras
que a noite esconde.

Ignoram quem se ampara
por debaixo de telhas
de medos e fragilidade.

Os trovões ribombam,
relâmpagos centelham,
seguidos de tons sempre mais próximos.

Encolhidos, os humanos
pensam se protegerem
da força dos elementos.
 
Passam os trovões, os relâmpagos,
e a chuva chega mansa, de convívio,
para mais um tamborilar nas telhas do alívio.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Nuvens Esparsas 5


Deus me vê, não me censura.
Olho de Deus nunca foi ciclópico,
microscópico, telescópico,
triangular e duro.

Deus nunca me olhou no banheiro,
nem me enxergou no escuro,
como na “Consciência” de Hugo,
sob o solo, longe de mim,
dentro da muralha de Tubal Caim.

 Olhar de Deus é de bondade,
vontade de ajudar, solidário,
peregrinos,
em caminhar solitário.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Núvens Esparsas 4


 
Não insista,
espelho não mente,
carne murcha,
pele perde o brilho,
vista embaça,
beleza causa estranheza,
odores se exalam,
sons se confundem,
e do mosto da uva,
perde-se o gosto,
tempo passa
implacavelmente.

 

*** 

 
Morre-se
de tudo um pouco,
de alegrias, de dores,
de horrores
e amores.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Núvens Esparsas 3


Idade! Que idade,
nestes infinitos sem começos?
Que gota de neblina,
nestes oceanos sem parâmetros,
sem esquinas, sem tamanhos.

Quem inventou o tempo,
nestes mundos atemporais?
Quem se lembra de locais,
nestes espaços cósmicos
sempre reais, sempre lógicos?

 
***

 
Não sou mais dono desses lugares,
sou ânimo que por eles vaga
e divaga,
enquanto estiver, por aí,
eterniz/ando andares.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Núvens Esparsas 2

Bem pouco faço por merecer
tamanha mordomia:
cama macia, comida farta,
boas saúde e companhia.

Pouco agradeço,
todo dia, reclamo
por mais espaço de bem-querer,
como se meu balaio forrado
fosse largo, sem fundo,
para caber todo o prazer
do mundo!

Se olho de lado,
vejo o que é ser coitado,
bem ao inverso de meus desejos:
calçada dura, noite fria,
eventual comida,  
desalentados da vida.

Indignados da sorte,
tropeçam, a cada passo, na morte,
não ascendem ao paraíso,
na contramão da razão e do juízo.

Razão de tal diferença,
simples cumprimento de sentença,
promulgada de próprio punho,
n´outra dimensão imensa?

sábado, 18 de julho de 2015

Núvens Esparsas 1

 
Um dia, seremos Marte,
à procura de vida
ou morte.

Lá, havia mar,
água de beber e chorar,
vontade de viver e andar.

Mas os homens de lá
não souberam se precaver,
como os daqui
não sabem como fazer.

A vida de lá se deixou levar
em turbilhão de poeiras
sequidão e falta de ar.

Micros seres, vírus e companhia,
talvez, um dia, nos esperem
com fome demais
de se perpetuar.