sexta-feira, 21 de abril de 2017

Nuvens esparsas (52)

Quem tem medo
de quem sabe, ou pode demais?
Quem sabe de menos, talvez,
ou bem mais se identifique
com o que dita o alheamento
do meio.

A incapacidade forçada,
por nem tanto poder ou saber
de redações, ou tabuadas,
costuma esconder as chaves
da prisão de espíritos espúrios,
e estamentos.

Vive, assim, o ignorante, ausente,
com medos e somenos prontidão,
em estado de graça inconstante,
cúmplice aparente
dos acontecimentos gerados
de frágeis engajamentos.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Nuvens esparsas (51)

Gestuais

Desconsidero formalidades.
Não me contentam festas, rituais,
lembranças como obrigas
pré-determinadas.

Compromissos, cumprimentos,
eivados de falácias, vozerias,
alienadas do coração, 
avesso, evito criar ilusão.

Oxalá permanecessem calados,
os votos insinceros,
e preservadas as interioridades,
ali-mentadas de só verdades.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Nuvens esparsas (50)

Politica-mente

A qualquer momento
pode-se sumir do convívio
numa armada cilada,
de tormentos.

O perigo sempre ronda
de longe, de perto,
a alma desperta,
postada à porta da vivenda.

Quem os persecutores,
supostos atores representantes,
defensores eleitos,
do menosprezo sem preço?

Quem nos olha nos olhos,
com cara de santo, santificados,
depois de se postarem de anjos
hipócritas e sacripantas?

domingo, 2 de abril de 2017

Nuvens esparsas (49)

Exercício da culpa

Ninguém suporta o silêncio
a corroer o peito
aprisionado, desfeito
em remorsos.

Suspeito de silenciar fatos
renegados a priori,
onisciente de pecados coletivos, 
por conveniências...

Mentira não cola, nem se cala.
Verdade dói antes de ser dita,
e aflora, mesmo que demore,
na sala iluminada da consciência.

Mas dia virá, no desassossego,
em que se confessará,
sem muito fazer esperar,
passado torpe, 
sombras e pesadelos...