segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Pensares a conta-gotas (159)


O igual sempre cansa,
o diferente alcança
o que sempre falta
na alma da gente.

 

 
O cego olha para dentro,
não vê do lado de fora,
a escuridão dos iluminados. 

Desconhece perigo de terrenos,
terremotos e tissunames,
e, quando cai, só cai em si,
para não mais tornar a cair. 

O surdo ouve o som do coração,
desconhece silêncio e barulho,
dos demais mortais. 

O mudo não fala do que vê,
não divulga loucuras e dados
do que sabe
dos que andam de lado. 

Neste mundo, de pouco conteúdo,
cego não é cego, surdo não é surdo,
mudo não é mudo. 

Cegos, surdos, mudos são os que falam,
escutam, enxergam torturas,
calam nomes,
e números de falácias e faturas.
 

 

A dor de poucos dói menos
que o sofrimento dos muitos
miseráveis, incapazes, loucos,
que não tocam a razão
dos donos desse torrão.  

Pobres, coitados, desvalidos de compaixão,
sequer serão acolitados
de esperança e boa intenção
dos santos de situação,
entronizados como proteção.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pensares a conta-gotas (158)


De que haverá
de se lembrar?

Desse deserto
de pouco amor
e gramas?

De areias quentes
de esquecimentos? 

De águas ferventes
de indiferenças?
 
De fronteiras amuradas
de egoísmos?  

De caras amarradas
de lavadas carências? 

De vidas passadas
sem saudades,
de demências?
 


 
Não se lamenta o acontecido,
quando muito, comenta-se
o aprumo das rodas,
o rumo do roteiro,
a consistência das molas,
a velocidade dos fatos. 

O destino é que controla
a vida que segue e não para,
porque a viagem é sem demora,
e podem ser muitas e variadas as rotas,
pouco se tem ciência e visão,
do pó das estradas remotas.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Pensares a conta-gotas (157)


Enquanto uns destampam sorrisos,
outros agonizam,
longe do paraíso.

Onde os que desfrutam,
enquanto outros lutam,
sem nome? 

Para onde vão os que morrem,
enquanto outros fogem
dos que sofrem? 

O que sobrará dos que comem,
enquanto outros somem
exalados da fome?

 

 
Quantos merecem
uma palavra
de reconhecimento,
mesmo que seja a minha;

Quantos precisam
de um pingo
de amor e carinho,
mesmo que sejam os meus;

Quantos repartem
uns pedaços de alma, em dores,
mesmo que sejam por carências
de mais variados valores?

Vive-se sempre mais secamente,
planta-se mais em terrenos vazios,
sem dono,
mesmo ciente de que se colherá
mais tarde
o suplemento do abandono
que sempre arde.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Pensares a conta-gotas (156)


A vida será eterna,
para quem deixa
das passagens,
sinais de presença.

Há quem desaparece
nas curvas dos mapas,
e só aderna
em águas turvas e densas
de cisternas.

 

 
Da morte,
seria a pior parte,
a definitiva idade? 

Morre-se aos poucos,
sem deixar de ser
de eterna idade?

 


O que adianta finar-se
por causa maior
de merecimento?

O que se há de exaltar,
senão atos menores
de endividamento?