quinta-feira, 29 de abril de 2021

Migalhas de Mim (91)



O grave problema do pobre

não é a pobreza que ultraja,
mas a ignorância que enoja,

cuja solução é sempre Educação,

sem exigência, sem tanto senão.

 

Se pobre ganha casa de um quarto,

no lugar de barraco de lona velha,

reivindica logo de dois, três, quatro

e reclama contra quem o agraciou,

com o pouco conforto que sobrou.

 

Mas, se conscientizado, admitirá

a verdadeira motivação da penúria,

a difícil reconquista da história,

a libertação do nefasto paternalismo,

em prol da vida de luta, com heroísmo.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Migalhas de Mim (90)

 

Frase solta

 

Há gente que passa pela vida

ensacando ventos, amealhando bens,

voláteis e efêmeros elementos,

com o intento de os ir soltando 

pelas encostas e estradas,

céus nevoentos, paraísos da sorte,

sem pensar em ter de inalar

ares insalubres, humores pestilentos

de despojos e nojos suarentos,

dos entes humanos que seguem

logo à frente, antecedentes,

que, também, os vão descarregando,

de seus já reduzidos instrumentos,

consoantes à inexorabilidade da morte.

domingo, 18 de abril de 2021

Migalhas de Mim (89)

 

Poema sem fim

 

A cada pé, um pedestal de despojos.

A cada metro, uma pedra de cal.

A cada canto, um canteiro de flor.

A cada pranto, uma lágrima de sal.

A cada espanto, um temor do mal.

A cada manto, um santo protetor.

A cada andor, um concorrido cortejo.

A cada conto, um autor de desejos.

A cada parte, um estudo de ensejos.

A cada flor , uma pétala, um cálice.

A cada conta, um rosário de vontades.

A cada pensar, um cento de realidades.

A cada agente, um carente de verdades.

A cada abraço, um beijo de amor.

A cada grito, um hálito de infinito.

A cada ocasião, um ato de gratidão.

A cada feito, um possível proveito.

A cada um, uma busca de outro.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Migalhas de Mim (88)

 

A cada ano, um novo concurso

de circunstâncias.

A cada mês, um poço profundo

de esperanças.

A cada dia, uma enfiada recheada

de ousadias.

A cada hora, uma escora segura

para sair, por aí afora.

A cada minuto, um susto ou grito

de alforria.

A cada segundo, um mundo cheio

de sentidos.

A cada instante, uma ideia brilhante,

logo adiante.

A cada suspiro, um alívio de tensões

do correr dos dias.

A cada ex-cada, uma expectativa

de nonada.

sábado, 3 de abril de 2021

Migalhas de Mim (87)

 

Oração de descrente numa 6ª feira da paixão de 2/4/21.


Ó jesus, se for mesmo verdade

que vieste a esta Terra

e morreste na cruz, como se traduz,

pensando, também, em mim,

num desses dias tristes, de pouca luz,

como agora em nuvens se fazem,

releva minha pouca fé

de ser tão racional

como me fizeste, inconteste,

na fórmula atestada de origem

do barro amassado sem igual...

 

Pudesse ao menos, por ora, saber

como tudo pode ter acontecido

aos habitantes de outros mundos distantes,

nesses espaços infinitos de gigantes,

onde também deves ter ido,

e que nenhuma bobagem fizeram,

por frequentarem lugares bíblicos proibidos,

ou ignorarem tua mensagem

cheia de verdades de amor e paz,

que certamente lhes deixaste de graça

para o bem da comunidade!

 

Se o lugar, aqui, era tão limitado e reduzido,

meios de locomoção tão escassos e falidos,

que tuas palavras ainda não podiam alcançar

os todos que morrem, morreram

ou haverão de morrer de precisões e carências,

sem conhecerem tua vontade de união,

pelo pouco de entendimento de ciências

de quantos mistérios é feito o infinito

desses espaços e desses tempos irrestritos,

que ainda fogem de minha incipiente razão,

mais uma vez, peço tua inegável compreensão.