sexta-feira, 30 de julho de 2021

Migalhas de Mim (97)

 

O sol bem pouco mudou,

nesses últimos milhões de anos-luz.

A lua continua nua a nababos,

clareando as noites dos amantes.

Mar e terra, ainda, se respeitam

dentro de limites traçados.

O homem, recém-nascido,

já começa a perder a cabeça,

se achando dono do mundo.

 

Mas quem sobreviverá imune

à hecatombe por vir,

preparada pelos humanos,

a qualquer prejuízo?

Uma barata tonta, talvez?

Um escorpião indez, desorientado,

ou um vírus inteligente,

multiplicando poderes, invisível,

recém-acordado?

terça-feira, 27 de julho de 2021

Migalhas de Mim (96)

 

Não gosto de fazer anos.

Quanto mais os faço,

menos sobram pr’eu viver.

 

Foi-se o brilho do rosto,

depois, ficou mais tosco,

agora, um esgar mais fosco.

 

Não é mais a vida,

mas a ferida que conta,

a invadir o débil corpo.

 

A ultrapassagem é dura,

não haverá como retroceder,

para mais tempo viver.

 

Cada um tem seu sofrimento,

mas carrega somente o seu,

sem qualquer fingimento.

 

(Lembrando Arquimedes)

De tão diminuto e mudo,

sem nenhum apoio,

o vírus levanta o mundo.

 

O mundo segue rodando.

As pessoas se amando.

A mando de quem?

domingo, 25 de julho de 2021

Migalhas de Mim (95)

 

Pensamentos em “randonnées”.

 

Com o tamanho

dos mundos,

passadas se diluem

no percurso galáctico

das caminhadas.

 

Por aqui o tempo

é escasso,

nem se armazena bens,

que nada se leva

além dos passos.

 

O tempo de vida

é infinito e curto,

tão rápido

que só um susto,

surtos e percalços.

 

Num próximo circuito,

há de se refazer

a trama dos bordados

que se vai retecendo

encordoados.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Migalhas de Mim (94)

A tudo se acostuma,

nesse evolutivo sistema,

em qualquer lugar,

por quaisquer desertos,

desse planeta de espumas,

tacanho, de rumo certo.

 

Nesse mar de sal e águas,

nesse universo sem margens,

nesse vagar de rebanhos,

nesse olhar de soslaios,

sem grandes ensaios, aprendo

a viver como rendo.

 

Nesse curto prazo terreno,

de percurso nazareno,  

de probatórios recursos,

nesse aprendizado azado,

a cada dia a minguar,

sigo remando,

até quando?

 

Nesse eterno permanecer,

nesses palcos sem tablados,

sem claques, sem aplausos,

com o que se põe em pauta,

muita coragem me falta,

com a brevidade dos ocasos,

de menor duração em minuendo

do que orquestrado crescendo...