"Avec um si on met Paris dans une bouteille."
Sempre os "ses"...
Se tivesse, ou não, mudado a viagem,
o ônibus, o trem, o navio ou o avião;
Se o carro tivesse, ou não, me pegado,
no contrapé ou na contramão;
Se tivesse, ou não, errado o estribo,
ao montar no cavalo, ou subir no caminhão;
Se tivesse, ou não, dormido ao volante,
naquele instante de curva apertada, na estrada;
Se tivesse, ou não, me distraído ao ligar o rádio,
ao sair de supetão, sem maior necessidade;
Se tivesse, ou não, mantido aquela ideia maluca
de ouvir cantar o galo, e espantar o curiango;
Se tivesse, ou não, olhado onde andava,
para não colocar o pé na arapuca;
Se tivesse, ou não, pesado o que falei,
ou falado menos o que não pensei;
Se tivesse, ou não, fechado a porta,
ou taramelado a janela, com mais atenção.
Se tivesse, ou não, verificado o retrovisor,
antes de dar ré, ou desligado o motor;
Se tivesse, ou não, assistido ao dia, no rezar das
ave-marias,
ou à aurora, a pintar de vermelho as barras do dia;
Se tudo não tivesse acontecido como aconteceu,
ou eu não tivesse feito parte desta história;
Se tivesse, ou não, considerado estes “ses” sibilinos,
com a mesma força na proposição,
se me permitissem a volta ao antes do depois,
quando ainda haveria remédios para a solução...
Se não tivesse perdido a hora,
estaria, agora, a olhar para o tempo,
a cocar têmporas e cachola,
engolindo o seco, amassando barro,
a pensar caraminholas?