domingo, 24 de fevereiro de 2013

Pensares a conta-gotas (181)


Passa o tempo,
passam os homens,
passam os heróis,
passam luas e sóis. 

Cortam-se os dedos,
rompem-se os elos,
e, em atos revéis,
soçobram os anéis.
 


 
Mil textos,
mil testes,
pretextos mil
pré-testes. 

Atos incontestes,
são terrenas,
ou tentativas
celestes?

 

 
Mais um dia,
mais uma hora,
um instante mais
um agora. 

Correm idades,
pesam provas,
que prenunciam
eternidades?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Pnsares a conta-gotas (180)


Roma não se fez em um dia, diz-se.
Paris valeu bem mais que uma missa,
na antevisão do oportunista
Henrique quarto.

O mandatário e os comparsas tiveram mais pressa,
Brasília nasceu desigual, feita a toque de caixa,
e se cumpriu uma inspirada promessa
de palanque, sacramentada em solene missa. 

As terras, então. se quedaram em porções furtivas,
nos arredores da ermida, mirraram-se as asas,
esquecidas, omissas, à deriva, sob descuidos
de gananciosos peritos arrivistas.

O tempo nunca soube concertar os ângulos,
nem os devotos, repensar santos e andores.
Até quando existirão espertos desonestos?
Homessa! 

 

Quadrinhas da quadrilha?
                
                 1
A lei é sempre rígida.
A Terracap não é dona de tudo.
A Justiça, que é cega,
nega
que só se derruba casas,
de gente desprotegida.  

                2
No Distrito Federal,
a terra é ilegal
para o povo.
Mas quem vai chegando,
primeiro,
vai botando um ovo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Pensares a conta-gotas (179)


 

 de  madrugada
os pingos da água
em ato continuum
nos pratos da pia: 

              ton! pim!

            ton! pim!       

      ton! pim!

 ton! pim! 

parecem  destoar
d´os conta-gotas
respingando tons
nas rodadas vias.




Por que uns
são tão cheios de privilégios?
Por que merecem
tamanhos sortilégios e louvores,
enquanto outros
padecem misérias e dissabores,
e pensam
que os tantos mistérios que os rodeiam
são frutos de insondáveis critérios
de protetores?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Pensares a conta-gotas (178)


O poeta dos infinitos conflitos,
do sempre calado eco de gritos,
do desentendimento de quantos limites,
da falta de razão em atos incertos,
do lado esconso do dito pelo não dito,
do vai-não-vem, do vem-não-vai de compromissos,
do deixa estar, do deixa disso,
do esperar para ver como é que ficam as normas dos ritos,
das indecisões, com precipitações nos contatos,
da pouca leitura, da escassa vida, das loucuras,
das borrascas, das raras calmarias da alma,
da cara lavada em desilusões, vezes enxovalhada,
da natureza descontente, por um quase nada de ciência,
da falta de assunto no trato com a hora marcada,
da conversa afinada, do tímido descanso do aceno,
da escassez da água no remanso, no sustento da manada,
da dormência na alma, na madrugada sem sono,
da carência de aconchego, do costumeiro abandono.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Pensares a conta-gotas (177)


Se, por compromisso,
for fazer consertos,
prefira ficar
omisso.
 

 

Aprende-se, com o gerúndio,
a amar, amando,
a escrever, escrevendo,
a sorrir, sorrindo.

Com o particípio,
não há mais jeito,
para o que já foi
bem ou mal feito.

Ao infinitivo restará
sem qualquer efeito
o sentido indeciso
do gestos
 


 
O que adianta lamentos,
arrependimentos,
se o que passou
já não pode mais sofrer
remendos,
retornos repentinos? 

Tivesse sido outro o destino,
estaria mais atento
a desalentos
ou lutas inglórias?
Só quem viveu
avaliza a própria história.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pensares a conta-gotas (176)


Eles passarão, eu passarinho” (Mario Quintana) 

“Morre-se como passarinho”,
por desconhecer vida
e hábitos do vizinho,
que não gostaria
de morrer
sozinho,
sem carinho.


 

Não sei o que leio,
o que li,
ou ainda lerei
que alimente
minha mente. 

Leio, por gostar,
daqui prali, de lá pracá,
o que achar,
o que virá,
sem muito planejar,
como ondas do mar.
 
 

 
Desperdício
é sentir apodrecer
tão perfeito
serviço!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Pensares a conta-gotas (175)


Linguagens 

Em qualquer lugar
desse vasto mundo,
cães falam e se entendem,
na linguagem dos cães. 

Também galos e gatos,
galinhas e andorinhas,
bois, cavalos, bodes e burros,
carneiros e camelos,
os todos animais da Arca,
do Presépio e das gravuras,
da terra, do mar e das alturas. 

Em qualquer lugar, qualquer coisa,
águas e águas, nuvens e nuvens,
árvores e árvores, montanhas,
sapotis e açaís, planícies e grutas,
falam a mesma linguagem, absoluta. 

Linguagens dos bichos,
das chuvas a correrem para os rios,
das pedras a rolarem nos precipícios,
das esmeraldas a traduzirem valores,
das begônias, alecrins e amoras,
e auroras e rosas dos ventos. 

Ainda, dos caquis maduros,
das folhas, flores e frutos,
dos espaços relativos,
dos jardins, matas e pantanais,
dos seres reativos
a revelarem semas naturais. 

Os homens, apenas, que os inalam,
os consomem e dominam,
não se entendem, se incriminam,
se dividem em salas,
e falam na linguagem dos homens-balas?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Pensares a conta-gotas (174)


Dinheiro nem sempre faz
a idade tranquila,
costuma cheirar mais à preguiça,
e se sustentar na cobiça.




 

Deus teria, mesmo,
que existir,
para que se lhe dê
explicações de agir.




 

Parece, até, que
quem não mente
não sai
da semente!