Migalhas de Mim (31)

O que se leva destas paragens,

senão imagens que se focam

no coração dos que ficam,

mesmo ainda que seja

pouco o tempo de dilação?

Os que eram se foram,

não mais são neste torrão.

Dos que serão doravante,

no vão desses espaços gigantes,

de ações não resolvidas,

restam interrogações,

para fraca noção desvalida.

Cantos e (des)encantos (?)

(Eles) 

“... o par de namorados. Eram silenciosos, precisos e admiráveis no sensualismo delicado com que se provavam a ponta de língua-orelhas, pálpebras, narinas, comissura dos lábios e finalmente, os próprios dardos de suas línguas no língua-a-língua que antecedia a violenta sucção dum pelo outro.” (Pedro Nava. Galo das Trevas, Memórias 5. 4ed. p. 38)

O que vejo além desse beijo

nesse cipoal de abraços

nesse massacre de lábios

nesse entrelace de dedos?

Corrente de mel e desejos.

Quem haverá de mesmo vendo

perceber esse comer de amor

nesse engolir de cor

como se o dividindo

não o fizesse maior?

Eles se esquecem

deste mundo exterior

prisioneiros carentes

dessa chaleira em fogo

de doadores de amor.

A seiva que resvala

por essas veias e vala

leva a mil recantos

desses corpos enleados

irresistível vontade

indomável desejo

de se multiplicar

ou de se dividir-

em mais.

Migalhas de Mim (30)

Importa interessar-se
em entender o que se é,
o que se foi,
o que se há de ser,
nesta eterna vida,
sem limite, sem alcance
do fato de uma semente
afoita, seminal,
bem sucedida na corrida
evolutiva, existencial,
não ter tido ponto final?

Nuvens Esparsas (29)

Pessoas funcionam à noite,

outras à luz do dia,

ainda outras noites e dias,

tais crianças buliçosas

no abandono de si e desejos,

que, para não perderem

tempo de estrepolias,

resistem ao sono benfazejo.

Migalhas de mim (28)

No 

No vale, o pico.

No micro, o macro.

No cisco, o magno.

No pedaço, o todo.

No glúon, o átomo.

No verso, o universo.

No ínfimo, o íntimo.

No toque, o abraço.

No germe, o fruto.

No relativo, o absoluto.

No começo, o complemento.

No genitor, o rebento.

No fundo, a ciência.

No espelho, a evidência

No amor, o mundo imenso.

Migalhas de Mim (27)

Dia virá, em que deste canto  

de chão tacanho,

a eneanos-luz distantes,

ainda não se alcançará

com as mãos  

outros mais evidenciados mundos

e seres viventes, inteligentes,

mesmo que os podendo ver,

em grossas lentes,

de telescópios possantes, 

potentes coadjuvantes,

ou já os podendo ouvir e sentir,

em gestos, palavras

e sons clarividentes,

ululantes,

por carregarmos carcaça ou mente,

apenas principiantes.