quinta-feira, 28 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (116)

O artista costuma morar,
além de quaisquer mares,
ou fronteiras,
acima de quaisquer ideológicas
fogueiras,
no âmago de quaisquer línguas
ou culturas,
no convívio com quaisquer magias,
as mais puras.

A arte extrapola limites
de pessoas e lugares,
e paira nos ares sem sustentos
do além das esferas,
à espera de quem a queira colher
na árvore do bem,
na sabedoria do Éden.

A fruta a se comer se doa,
sem perícias,
em parreiras, pereiras,
e mais eiras nem beiras,
ao alcance de quaisquer
mãos de artistas,
ávida de ser comida sem restrição,
culpa ou cobiça,
como oferendas de quantas
delícias ocultas.




O que se espera, na poesia,
é o inesperado da ousadia,
a surpresa do imprevisto,
o incomum do desacostume,
a teimosia na fuga do déjà-vu,
o deixar de lado do lugar comum
em proveito do inusitado da fantasia
na cabeça do contemplado?
Então, mãos ao machado!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (115)

"Antes, agora e para sempre, amém."

No mundo dos ricos, foi sempre assim,
há os mais e os menos ricos.
No mundo dos pobres,
os mais e os menos pobres.
No mundo dos míseros,  
os mais e os menos míseros.

Entre os famintos, sempre foi assim,
há os menos e os mais famintos.
Entre as pessoas sensatas,
as mais e as menos sensatas.
Entre os viventes, não há iguais,
só rivais, em duelos mortais.

A igualdade não anda de mãos dadas
com a fraternidade, que não existe,
que não anda de braços dados
com a liberdade, que não resiste
a esse mundo, sem solução
de desumanidade, sempre em conflitos.

Só não vê quem não quer ver o rico,
que não vê o pobre, que não vê o miserável,
que não vêem os sábios, que não se fazem ouvir
dos santos, que não são os Sãos dos altares,
mas os dos vários cantos de gentes ralés,
que não fazem milagres de velas aos pés.

sábado, 23 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (114)

O planeta caminha para mais um fim,
quando o quase tudo será de uns,
e o quase nada, do discreto resto,
mera sobra à espera do que cai
de migalhas escassas das sobremesas,
da mesa farta dos gestos dos nababos
canalhas,
que acumulam riquezas até de limalhas,
para se alimentarem da pobreza,
e se locupletarem da miséria
dos sem dotes de nobreza.




Por que a Terra não despenca do vazio,
e cai sobre nossas cabeças
de crianças sem consciência?

Por que o sol acende e não apaga
as labaredas de 100 quilômetros,
sem torrar-nos a paciência?

Por que a ciência não nos ajuda a fugir,
para onde não há mais lugar
de onde continuar a fuga?

Por que não se ensina à pulga,
animal esperto, a pular só o tanto certo
de seu tamanho tacanho?

Por que tantas perguntas sobre a vida,
se não se consegue satisfazer
nem o mínimo da vontade de saber?

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (113)

Vive bem,
poderia viver pior.
Mora bem,
poderia morar pior.
Come bem,
poderia comer pior.
Veste bem,
Poderia vestir pior.

Por que fingir do prazer
de viver,
se pôde apenas garantir
os momentos
de simplesmente existir
sem suprimentos?


Uma minhoca insistia
em roer-lhe os pensamentos,
e, parecia, nem desconfiava
que nada mais fazia
do que consumir-lhe
fragmentos de alegrias,
no dia a dia da pressa
e dos tépidos momentos.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (112)

Aproveitem, ó musas do ar,
para se mostrar,
enquanto é tempo de culto
à nova escultura do corpo,
às carnes das curvas sólidas,
à pele lisa e à estrutura rígida,
brilhantes de óleos e odores.

As horas, os momentos,
os produtos dos minutos,
as forças dos unguentos,
haverão de ceder, bem cedo,
lugar ao tempo absoluto.




Que diferença faz se Skol,
bavária ou skincariol,
kaiser, brahma ou antártica,
se a vida é devassa ou boemia?

Que diferença sempre se fez,
se tristeza ou alegria,
se riqueza, pobreza ou miséria,
se rotina não namoram bonomia?

As marcas da vida não fabricam
misturas de sabores,
de dores com alegrias,
de prazeres com dissabores?

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (111)

Curta a existência
das aparências;
eterna a permanência
das essências
das ciências fraternas!




Desde quando ilumina, o sol,
até quando ainda presidirá
a esses rastros de planetas, luas e cometas,
carentes de todas as  liberdades,
indiferente aos que o pensam
pequeno demais para vagar em meio
a esses espaços, siderais,
a pastorear grupelhos de animais,
vegetais, minérios e humanas vidas,
resumidas, sem suficiente lume,
que justifiquem tais impossibilidades?




Pelas veias, entram
teus jardins de cores,
revestidos de mil calores,
de odores e sabores,
dessas imagens-beldades,
cheias de saudades
indolores.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (110)

Enquanto uns poucos iluminados
se esforçam por arrumar a casa,
para o bem geral dos viventes,
gentes inconseqüentes tramam,
a lanho, o tamanho do ganho,
e espalham lixo de desperdícios.

Os interesses cortam auxílios pela raiz,
e deixam a terra faminta e ressequida,
sem um pingo sequer d´água de vida,
para que nasçam mais bens de essência,
que alimentem novos ânimos em ramos.

Os avanços de abnegados cientistas,
que se esforçam por prolongar as exixtências,
pouco importam aos ingratos magnatas,
que tomam de assaltos os valores dos achados,
que lhes fazem viver nas facilidades do fausto.

Por que fingem, tais perpétuos parasitas,
desconhecer os sábios e seu bom senso,
para o governo do bem viver mais largo,
que desqualifique políticos insensíveis,
escravos demasiados ignorantes,
vassalos de valores desinteressantes?

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (109)

O que importa é ser diferente
de quem pensa como a gente.
O que não encontra motivo
é ser o mesmo, repetitivo.




O tempo passa,
não escolhe data,
nem casa, nem raça,
mesmo que pensemos
que só na cara dos outros,
ele arranha e deixa as marcas
da devassa que faz desgraças.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (108)

Por que uns poucos errados estarem sempre certos,
E outros certos quase sempre errados?

Por que uns poucos culpados permanecerem libertos,
E outros muitos de pouca culpa trancafiados?

Por que a justiça se fazer para ignorados, ingênuos,
E os poucos instruídos a ignorarem por espertos?

Por que uns supostos representantes serem sempre assistidos,
E os representados não terem concretizados seus pedidos?

Por que se assistir ao errado a ditar preceitos encobertos,
E os muitos certos dever recebê-los de bicos abertos?


Neste país, cada vez mais sem juízo,
a justiça, parece, só se exerce
para donos do dinheiro,
que a compram por benesses,
sem nenhum prejuízo de banqueiro
que a favoreça.


Enchamos de palhaços o circo!
Que vivam as ervas daninhas,
alimentadas do lixo
e os outros ciscos.
Pior não fica,
que já danifica!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (107)

Quer-se crer
que os casais
se tornam irreais.

Quando cônjuges,
são mais fiéis
a cânones sociais.




Descalabros de ideais,
desacertos de casais,
sociais convenções,
descabidas invenções,
tanto mais rivais,
quanto indissolúveis
as uniões desiguais.



 (Compartilhando)

Para uns deixa-se dinheiro,
para outros, pensamentos?

Para uns doa-se alento,
e, para quem precisa de ânimo,
      um sorriso magnânimo?

      Lega-se parcelas de tempo
àqueles que carecem de mais tempo,
para maior desapego?
     
      Se mais não se entrega,
                  é porque não se só nega.

sábado, 9 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (106)

Homens nascem, dormem
e acordam esmorecidos.
Envelhecem e morrem,
empobrecidos,
apodrecidos, como sementes
de viventes.

E sempre passam, repassam
e renascem, mais adiante,
em tempos e lugares distantes,
esquecidos já das pegadas,
deixadas em passagens,
precedentes.




Nessa altura da vida,
pode-se, até, confirmar
que o amor verdadeiro
nada tem de tão inteiro,
ao se deixar comparar
aos mecânicos atos
de um apenas procriar
                  de movimentos exatos.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (105)


O dinheiro é sem coração,
deixa sem opção o pobre
que, se correr, o bicho pega,
se parar, com fome,
o bicho é homem.

Há desconto pra tudo,
na luta do vale-tudo da injustiça,
menos pra dinheiro lavado,
isolado de cortiça.

Questão de desrespeito
ou de vergonha e contrafeito,
o valor da pecúnia alienado?

Quanto vale o picolé,
artefato apenas perfumado,
no carrinho do pobre coitado?
Se um real, paga-se oitenta.

Quanto, o carro contrabandeado?
Cem mil? Leva-se por oitenta.

Qual o valor do apartamento,
mobiliado em madeira condenada?
Se quinhentos mil,
Compra-se por quatrocentos e quarenta.

Do iate decorado
com salários desregrados?
Um milhão? Tem-se por oitocentos mil,
de dinheiro facilitado.

A quantas anda a dívida da nação?
Um bilhão? Paga-se com rolagens,
e juros escorchados,
seguros e mais apuros da população.

Deve-se pouco? Vai-se para a prisão.
Paga-se com perda da identidade,
da idade a ser bebida e comida,
com dormida na iniqüidade,
e o tempo moldado na preocupação.

Deve-se muitos milhões? Aguarda-se em liberdade,
nas mais confortáveis poltronas e vantagens:
responder, de cara lavada,
os inquéritos de magistrados,
bem educados na certeza da impunidade,
resguardar-se no estratégico silêncio das leis,
à sombra de bem treinados bacharéis,
sem devolução de luxo injustificado.

Qual o preço da consciência, do pecado,
da missa perdida, do culto manipulado,
dos desejos satisfeitos, do uso da contravenção,
do cônjuge infiel, da omissão nas injustiças sociais,
da conivência nas mortes inocentes,
do desperdício de alimentos oferecidos,
da complacência com dirigentes indecentes,
das vestimentas suntuosas, no ouro guardadas,
da ostentação de guardas engalanados,
das pedrarias valiosas nas confrarias de iguarias,
mesmo que luzidias de tão caras,
de tão finas e frias?

O mundo é bem louco!
Do pequeno, tira-se o muito,
Do grande, tira-se o pouco.
Quanto mais alto o preço,
maior o valor do desconto.
Quanto maior a dívida (no posto),
maior a indulgência (no encosto).
Quanto maior o crime (assumido),
mais gratificante o castigo (infligido).
Quanto menor o valor do ser humano,
mais o mundo se mostra desumano
Quanto maior o pecado  
maior a complacência do prelado.

E Deus, como é que fica,
diante de tudo isso? Omisso,
avaliando prévios compromissos?

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (104)

(Impertinências),
Deus, ser perfeitíssimo,
o mais perfeito, na gramática,
dos que buscam a perfeição,
ou o eterno que nunca foi ou será,
o criador da Terra e do Firmamento,
onisciente, conforme os mais conscientes,
coadjutor dos atores desencorajados,
executores deficientes do já planejado?

A razão de ser dos seres terrenos
são os movimentos do muito querer,
e do pouco poder exceder
na direção do contínuo polimento,
já que estagnar é se acomodar,
conforme aos propalados mandamentos?

Entre quantos seres imperfeitos,
Deus é o ideal da justeza e da beleza,
do amor, e de tudo que é bom de verdade,
o sem defeito de todas as entidades,
o altíssimo definitivo de pureza,
com todo o direito, como referência,
a não mais ascender à essência do evoluir
rumo à inatingível satisfação
do existir e da excelência?

A busca do apuro jamais será total,
e Deus, o Ideal mais perfeito,
entre os menos perfeitos,
ainda buscaria por mais apurar,
insatisfeito de sua própria perfeição?

Os seres outros caminham eternamente
rumo ao ponto inacessível,
quase impossível da cosmovião,
porque  não totalmente perfeitos,
mas rarefeitos?

Caso pudessem, um dia, parar,
inexistiriam bondade
e empenho em ajudar
aos mais desenganosos,
no retardo do caminhar?

A plenitude não é virtude desse mundo,
nem de outros pluriversos paralelos,
porventura existentes.
Fosse assim, não sobrariam vontades,
ânimos tamanhos de progredir,
neste caldeirão de potencialidades ingentes.

Uns mais, outros menos,
todos os seres são insatisfeitos,
até o mais escorreito de todos os imperfeitos,
que por direito de não precisar recomeçar,
continuar e findar,
                   já é, já foi e será sem presumido defeito.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (103)

Variações sobre o mesmo tema

1

O finito, que somos, reflete
o infinito de que dispomos,
de que pouco sabemos,
do que fomos e seremos,
a que apenas somamos
um mínimo de minutos
de energias em sinergias,
absolutos?

2

Explode uma densíssima esfera
qual ponto de possibilidades,
e renasce um mundo de atmosferas,
como brota também o instante,
dentro do vazio de um já antes,
que continua a persistir, a crescer,
alargando mais tempos e espaços,
até se arrebentar de tanto cansaço,
e não mais, em si mesmo, se conter.

Seria esta força de sempre expandir,
para, um dia, diminuindo, regredir,
até o estrépito do instante primeiro,
deixando o lugar de ser lugar, ressurgido,
o tempo deixando de ser tempo, nascido,
o ser, de nem sempre haver sido?

O que não se explica é profundo mistério,
perdido nesse ermo sidéreo,
onde co-existem mais mundos?
Desde onde e até quando, para onde
viajam os pluriversos, complexos,
que não concebem o impossível?
As gentes não existem só como fósseis,
ou como mísseis, de artifícios possíveis.

3

De quando em quando,
o mundo espicha e encolhe,
em reviravoltas
de idas e voltas.

De quando em quando,
o mundo nasce e renasce
de um ponto ínfimo,
denso.

De quando em quando,
o mundo explode e implode
por aí a fora,
no vazio imenso. 

De quando em quando,
o fim dos tempos,
é retorno aos princípios,
aos fins, desde o início?

4

Como seria um mundo infinito,
que sempre começa e termina,
para voltar ao recomeço,
sempre e sem qualquer tropeço?

O que há por detrás do muro,
de onde recomeça o ciclo,
depois do fim do mundo,
do tempo que se detém
do poder do estrondo rotundo,
que se expande, e se retém?

Melhor seria não pensar,
ignorar nossa enésima fração de ser?
O que houve antes desse lugar,
no qual continuará o universo
a se multiplicar, a frear, até parar?

O que houve antes desse tempo,
no qual continuará o mundo
a se expandir, crescendo,
a diminuir, se retraindo,  
para voltar a evoluir, de novo,
infinitamente, assim, óvulo e ovo?

Até onde, até quando as forças do empuxo,
atuarão para além do tempo e do espaço,
em que tudo terá que chegar ao fim,
para sempre voltar a recomeçar?