domingo, 19 de fevereiro de 2023

Migalhas (121)

 

Tudo são os outros, consigo nada acontece.

Eles envelhecem, perdem a razão,

se esquecem de horários, se desconhecem,

e se afastam em vão, dos demais mortais.

 

Os outros abrem mão da forte vontade

de levar a passear filhos e netos,

de ler, escrever, conversar com os silêncios

com os próximos circunstanciais.

 

Os outros dormem tarde, acordam cedo,

sonham segredos, passam noites em claro,

desconhecem vaidades, cuidados consigo mesmo,

contam os dias, as horas em vida de segredos.

 

Os outros teimam, são pouco conviviáveis,

resmungam, respondem de travessa,

fazem cara feia, escondem sorrisos na socapa,

perdem o juízo, a todo momento preciso.

 

Os outros são os outros, como se diz,

em alguns lugares difíceis de se lembrar,

quando a gente se propõe a procurar nos escritos,

tanto mais agora, às portas do paraíso.

 

Fica-se nessa, então, de não se abrir as mãos,

de perder-se na vontade, vaidade, vitalidade,

na idade das festas de encomenda,

sem a farta ilusão da velha concertação.

 

Entra-se, logo, “como diz o outro”, 

em estado depressivo, na profunda decepção,

na descida fatal dos morros, como um tudo,

perdendo-se norte, sul, leste e oeste,

à espera de morte inconteste, lasso e mudo.