terça-feira, 24 de abril de 2018

Nuvens Esparsas (87)


“Vós, Senhora, tudo tendes
sendo que tendes os olhos verdes.

Dotou em vós Natureza
o sumo da perfeição;
que o que em vós é senão,
é em outras gentileza:
o verde não se despreza,
que, agora que vós o tendes,
sam belos os olhos verdes.

Ouro e azul é a milhor
cor por que a gente se perde;
mas, a graça desse verde
tira a graça a toda a cor.
Fica agora sendo a flor
a cor que nos olhos tendes,
porque são vossos... e verdes!” 

(transcrito de Rimas de Luis de Camões, Nova Edição , Revista, Coleccão Literária Atrântida , Coimbra, 1961, p. 33)

Troco, de Camões, verde por azul,
que, além de ser, também,
mui belo, e, não, breu,
é a cor do céu singelo,
e a cor, Alice, que Deus lhe deu!

(“Bobô” Joaquim)


Olhos de Alice

Quem te brindou
com tal par de olhos
azuis, pérolas de luzes,
d´água-marinha singular?

Rainha ciumenta, 
Natureza não cobra 
valia sobre beleza,
e concertada obra.

Só a complementa 
de mais encantos, 
e, de graça, a ostenta
aos quatro cantos.

domingo, 15 de abril de 2018

Nuvens Esparsas (86)

A flor, por desejada,
se ajeita, se enfeita,
para alegria das festas.

Com o tempo, pouco resta,
padece esquecimentos,
esvanece, por rejeitada.

Murcha e desfeita,
a flor abaixa a testa,
sai da vida, inanimada.

Como qualquer ser vivente,
nasce, viceja, e morre
após a luta, resignada.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Nuvens Esparsas (85)


Criação:

Terras úberes,
jovens, frescas, macias.
Plantaram-se, ali, sementes, 
antes dormentes,
para serem procriativas
como nunca vistas.

Nasceram, como nascem
vigorosas promessas,
rebentos de vidas novas,
joviais, luzentes, sadias,
a se perpetuarem
como eternas liturgias.


segunda-feira, 2 de abril de 2018

Nuvens esparsas (84)

De tanto revirar gavetas,
acaba-se por se perder em aihs!,
como referências sentimentais
dos amores ali guardados.

Também eles o perderam,
sem mal-querências reais,
sem caprichos, sem feitiços,
sem tantas de-pendências.

Difícil será se reencontrarem,
para mais enlaçados sonhos,
corporificados abraços de treliças,
cicatrizados traços de lembranças.

Almas, quase nunca, se esquecem
em pensares, mesmo a conta-gotas,
tais e/ternos tempos a esgotarem
areias de ampulhetas movediças.