segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Migalhas de Mim (120)

 

Carne banhada a ouro,

deslustre, falta de decoro,

inconsciência da realidade

de calamidade,

de um contexto social

desassossegado e faminto,

a levar a Copa do fracasso

ao mundo da iniquidade. 

 

(hexa)  + + + + + + (hexa) 

 

Carne dourada, desdouro,

grande engodo de mal gosto,

agouro, malogro no jogo.

domingo, 11 de dezembro de 2022

Migalhas de mim (119)

 

Se o texto-poema não for escrito, 

ou prescrito, ou compartilhado, 

compreendido, destrinçado, dissecado, 

dilacerado em minúcias de funções,

como se em mesa de anatomia verbal,

ou, então, ouvido, visualizado, 

fotografado por olhos curiosos,  

carentes de momentos desejados,

ou, mesmo, até decantado no rádio,

toca-discos, pendrives, espotefais,

ou instrumentos já desinventados,

que embalem os leitores-autores,

enlevados numa música diáfana, 

atirados a paragens estelares eternas,

desses pluriversos enigmáticos,

a trilhões de trilhões de anos-luz daqui,

quem sabe, em sonhos recriados,

embora sempre não finalizados, 

ou, tão só, fertilmente imaginados 

à flor da pele e sensações inesperadas,

que seria deste pobre coitado, Arlequim!


sábado, 22 de outubro de 2022

Migalhas de Mim (118)

 

O animal irracional vive no homem racional

e o faz agir irracionalmente.

A guerra da Rússia e Ucrânia

não é do povo russo e ucraniano,

nem do europeu, americano, chinês,

palestino, judeu ou pigmeu,

mas da imbecilidade dos homens sandeus,

que têm armas e desconhecem limites,

para usá-las contra o vizinho,

culpado ou anãozinho.

Inexistem fronteiras, para os donos do dinheiro.

A morte é que será sempre o mote das guerras,

santas, sacrossantas, sacripantas.

                    ***

(Em tempo do sempre agora)

Sou contra guerras, sem consertos,

de braços, de mãos ou pedras,

de arcos, zarabatanas ou flechas, 

armas de fogo, pólvoras ou átomos,

bombas sujas ou aniquilamento total,

sem nenhumas razões e sentimentos,

ideadas por homens sem concertos,

só de bem providos armamentos.


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Migalhas de Mim (117)

 

Quase todo o mundo está a morrer,

de falência múltipla do espírito,

por falta de sensibilidade,

desses pobres coitados, vertebrados,

donos e escravos de dinheiro roubado.

 

Que seremos nós, depois das guerras,

teleguiados das bombas

saídos de cabeças alopradas?

Voltaremos ao pó de onde viemos,

como filhos de Noé e dos dinossauros?

 

Que arca conduzirá algum de nós

para voltarmos de novo,

quem sabe! ao ovo,

desesperançados dos tropeços

e recomeços dos passados?

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Migalhas de Mim (116)

 

Antes eram os ancestrais, dos anais,

depois, dos assentamentos dos avós,

de que e de quem nem se lembra mais,

e dos ais aos pais que se vão diluindo

na memória falaz, provisória e fugaz,

tal como se dará com os filhos, netos,

bis e tetranetos, retos, diretos, indiretos,

descendentes que fácil-fácil se esquecerão

das semelhanças que se amarelecem

nas peles e papéis dos velhos jornais,

nem se guardam mais na genética frenética,

jogados ao fogo, aos ventos dos elementos,

pois, passam-se as lembranças das heranças,

como a propriedade dos laços entrelaçados,

que os tempos fazem, desfazem e refazem,

sem mais consciências de ocupados espaços,

pelos jamais.

sábado, 6 de agosto de 2022

Migalhas de Mim (115)

 

Um erro, um cochilo,

um clique na desatenção,

em contramão,

na voracidade do ímpeto 

das vaidades

fazem-nos, num átimo,

em fumaça, de graça,

sem dor nem dó,

porque pós já somos,

desde Adão,

átomos de argila,

ainda molhada,

de outros dilúvios,

sempre de mal usos.

Para tanto não haverá

definição,

para outras quaisquer

soluções,

complicadas equações

enigmáticas,

dessa humana matemática.

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Migalhas de Mim (114)

 

Amizade paira acima

de qualquer título,

de qualquer estudo,

de qualquer escudo.

 

Amigos são mais

do que irmãos,

que não se demovem

por qualquer situação,

em contramão.

 

Amizade nasce

do coração e, até,

desconhece razão

desprovida de emoção.


xxx


Triste trovinha,

sem ou com razão:

irmãos por acaso,

amigos por opção,

dores de ocasião,

amores de doação.


sábado, 9 de julho de 2022

Migalhas de mim (113)

 

Poder-se-ia, a vida ser mais repetida,

com tempo bastante, para se viver

cada instante, intensamente,

como se é na eternidade,

sem medo, sem maldade,

sem pejo, sem vaidade,

somente como santos,

no paraíso de Dante,

como irmãos juntos,

sem agravantes?

Mas, não! O que se vê, então?

Guerras que nos aterram

e enterram os sonhos retumbantes.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Migalhas de mim 112

 

Arrepender do que, por leso,
não vivi ou deixei de o fazer,
ou do que, então, fiz opcional,
sem deixar proposital lesão?
 
Minha solidão é só minha,
de mais ninguém de companhia,
se, só comigo, consigo me encontrar
e me fazer compreender,
nesse solitário vagar de vida vadia!
 
Por que vivo de arrependimentos,
sem me julgar vencedor
de algum nobre empreendimento,
que ousei abraçar, sem muito pensar?
 
Imagino quem não encontre retorno
pelas estradas vividas,
quase sempre re-empreendidas,
como eternas jornadas de viagem,
de rotas escolhidas!

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Migalhas de Mim (111)

Minha vida se transcorre na estrada, 
cheia de quase que só encruzilhadas, 
de soluções instantâneas, 
individualizadas. 

Se me decido pela esquerda, 
desconheço o que me aguardaria 
na outra alternativa
da caminhada. 

Se me dirijo à direita, 
nunca saberei 
o que me reservaria, à esquerda, 
de dádivas ou avarias. 

Forças superiores, desconhecidas, 
guiam-me os passos, sem consultas, 
sem atrasos, que impeçam passagem 
a outros transeuntes dessa labuta. 

Sábia assertiva essa de quem 
me colocou nessa empreitada 
bruta de vida ativa, decisiva, 
dantes programada para disputa.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Migalhas de Mim (110)

 

Sempre o tempo passa.


A idade do homem prossegue apagando

certezas e seguranças de antiga sensatez.

Gentes titubeiam com medo de quase tudo,

falseiam passos em descompassos,

enfraquecidos e vacilantes pernas e braços,

frouxas as correias dos escudos  

e dos quantos laços.

 

Os sentidos mais se embaçam, no cansaço,

horizontes deixam de ser claros e largos,

gostos sabem sempre mais acres e amargos,

vistas pouco ou nada alcançam dos longes,

ouvidos passam a dar ouvido a silêncios, 

que nem, um tanto, deles se enternecem

no sensato imediato.


Vive-se de arrepios, arremedos, enganos,

o tato não é, assim, tão exato nos cálculos,

mãos ficam perdidas nas contas dum rosário 

de desgastados anos de ideários. Hélas! 

Não se é mais, nem por conveniência, 

tão loquaz ou, sobremodo, humano, capaz,

nem um pouco sagaz.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

 

Estas cartas amarfanhadas,

amarradas em fios elásticos,

há muito não me pertencem.

Falam de amores, arrefecidos,

exalam-se de tempos plásticos.

 

Não as queimo, porque as autoras

muito as amei, e, mesmo, agora,

têm sabores e odores ressentidos,

de moradoras de gavetas reclusas,

de papeis e tintas ressequidos.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Migalhas de Mim (108)

                            Penso no que escrevo,

do que me apeteço.


Para quando? Para quem?


Para mim, como ninguém


por certo e correto.

 



Também, para alguém


que encontre meus textos


em algum contexto


claro ou escuro,


de sebo ou livraria,


de monturo ou entulho,


com ou sem avarias.

 

Para que me atrevo?

Para desabafar o que me dói

ou me rói por dentro,

na alegria do sol

ou no desalento do momento.

 

Às vezes, me desprendo,

de uma borboleta que esvoaça,

à procura de flores que sugar,

ou de folhas novas onde botar

seus ovículos cristalinos,

no cumprimento do instinto

e do indomável destino.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Pensares a conta-gotas

 

Herodes continua vivo.

Comanda aviões 

de extermínio

de inocentes palestinos

que não fogem pro Egito,

morrem sob as bombas

dos filhos de Herodes, 

assassinos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Migalhas de Mim (107)

 

Um texto em prosa,

informativo, se veste de poema,

desprovido de poesia,

sem deixar, contudo, perder

o interesse da leitura,

até pela alta envergadura.

 

A recíproca é verdadeira:

o texto poético, figurativo, 

se veste, às vezes, de prosa,

sem perder interesse e beleza.

Questão de natureza, vestimenta,

roupagem, aparência, verticalidade,

ou grandeza.

 

Textos que se querem modernos,

de versos brancos ou menos alvos,

verticais na aparência,

mais se prestariam a se deitarem

na horizontal, sem mudanças

nas concordâncias, 

na essência de original.

 

Tome-se “José”, de Drummond:

“E agora, José? A festa acabou,...”

O que conta é graça,

em qualquer modalidade de Arte,

é a satisfação do eclético leitor,

que a repercute, a posterior.

 

Lembra-se Cesar, o Augusto:

Vim, vi, ouvi, comi, cheirei,

gostei ou não gostei.

Daí, falarem em Arte

produto de consumo,

seja na extensão ou no resumo.

sábado, 15 de janeiro de 2022

Migalhas de Mim (106)

                            

Escritura automática,

escrever sem muito pensar,

sem precisar de entendimento

ou explicação sistemática.

Cada um que entenda o que quiser,

à la légère, ao vento do momento.

 

Uma abóboda dependura-se da matriz,

quando segue pro firmamento,

jogada no espaço estelar,

sem um pingo sequer de chuva

no asfalto vaporoso de cinzento

das ruas de muitos percorreres.

 

Um elefante para no andar,

guiado pelo derretimento do ex-barro,

que decorre da inclemência do sol,

no meio do dia mormacento

e  d´outros instantes de mais agonias

depravadas.

 

Absolvo-me desses pecados mortais,

que me acontecem, às vezes, pecar,

depois de muito rezar ao deus dará, 

quem diria!

como condição de me arvorar em santo,

eterno criador de ladainhas repetitivas,

Pater Noster, Salve Regina, Ave Maria!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Migalhas de Mim (105)

 

A poesia não quer saber de explicação

e não carece de entendimento?

Fosse assim, não existiriam encantos,

mistérios a se perguntarem,

perante os céus nevoentos?

 

Vale escrever sem muito pensar,

deixar as palavras chegarem,

sem pedirem licença,

entrarem na sala, atravessarem o salão,

irem à cozinha, sem abrirem portas?

 

Tomarem café, sem açúcar ou melaço,

sem se preocuparem com sabor

e odor de pó recém coado,

ou do terno novo, às pressas comprado,

de se apresentarem desavisadas ao povo?