Avignon
Os
papas comiam carne
no
sábado e no domingo,
e
na segunda e na terça,
e
na quarta e na quinta.
Na
sexta, como lenimento,
jejuavam
do gordo
e
do cruento farto sustento.
Sob
as coifas da palaciana cozinha,
limpavam
a consciência,
para
olharem nos olhos baços
dos
fiéis pobres, miserentos,
que
não comiam carne
no
sábado e no domingo,
e
na segunda e na terça,
e
na quarta e na quinta,
e
jejuavam na sexta,
contentando-se com pão bolorento.
Estes
não podiam pecar por gula,
nem
pelos outros pecados capitais,
que
levavam os descrentes ao inferno,
em
atendimento às bulas papais,
na
dura conquista dos céus imortais.
Na
quaresma e na semana santa,
os
bois diários do churrasco sangrado
transmudavam-se
em peixes,
animais
de pouco sangue frio,
para
não se lembrarem
das santas chagas cruéis
de
Jesus Cristo, crucificado
por
querer acabar com a fome
e
as dores dos homens necessitados.
Pobres
seguidores, penitentes,
desassossegavam a consciência
dos
ricos e nobres bem nascidos,
de
almas dormentes, mãos lavadas,
que
não jejuavam o suficiente,
a se espelhar nos pecados da carne,
sob
púrpuras, bem escondidos,
mas
ditavam restritas normas,
às
humildes mentes contritas.