segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Nuvens esparsas 9




Razão e coração

andam quase juntos,

pertos.

Ora vai um à frente, ora outro,

à distância de poderem se falar,

a seu momento,

conforme reza bons entendimentos.



Há os que são só coração,

de fé e pia,

e incenso,

outros, quase que só razão

e filosofia, e mundos imensos.

Difícil fazê-los concordar

nos julgamentos.

sábado, 29 de agosto de 2015

Novos pensares 5


Ironia,

represa arromba,

avarias não mitigadas. 



  



Cores do branco

reflexas no prisma 

do arco-íris.







Corpo cansado,

momentos azados,

de dormências. 





Velhice,

sobrecarga se represa,

procura de sobrevivência. 







Insônia,

noites mal dormidas,

tempo passa no passado. 





Desgraça de viver,

certeza de morrer

de graça. 







Primo plano,

ônus de enganos,

correr dos anos.






Alma à parte,

corpo se rende,

pó de terra. 







Alma partida

corpo se fende,

ao pó descido. 







Não provo que falei.

Se falhei, não sei,

desaprovo. 







Destino traça caminhos,

seguidos, tacanhos.

Estranheza. 







Voo devagar,

não folheio livros à toa,

estudo, ao crivo. 







Chuva ávida,

árvore chupa

mel da terra. 





Poema desmedido,

desânimo e graça 

do espontâneo. 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Nuvens Esparsas 8




Vozes infantis acordam a manhã,

gritos, choros, birras, risos, movimentos.

O silêncio do velho prédio, de pés quebrados,

revive na pouca vida

dessas criaturas mínimas.



Elas não sabem disso.

Por isso, agem assim natural,

o normal.

Delas só se imagina o longe das possibilidades. 



Pudesse voltar a ser criança,

incorporar pureza e inocência a pouco de razão!

Avezinhas tagarelas,

minhas vizinhas olham para o alto,

para perguntarem meu nome.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Novos pensares 4


Choro, suor derramado,

alimento minguado,

moldado mundo. 







Uma vez, apenas,

ocasião passa à porta,

vão sem voltas. 







Ladrão, leva dinheiro!

Assim, meu nome

não some. 







Sementes de orvalho,

sereno da manhã,

rubis, gotas de romã.  







Penso, logo insisto

em viver intenso

o já previsto. 







Rituais alados,

prima chuva,

núpcias de cupins. 







Tanajura,

esforço derradeiro

gera formigueiro.








Simbiose na mata,
copas
de castanheiras.           







Maldade vendida,

final dos tempos,

ou de novelas reles. 







Sete notas semeiam

ares da Itália,

canções de amares.  







Cantar, por aqui,

parece nascerem prontas,

almas de encantos. 







Puglia, cantos de "uccelli",

artes calmas, recantos,

almas peregrinas. 







Feio realça o belo,

feiura, vãmente,

rechaça moldura.  







Provada inocência,

paga-se, ainda,

consequência. 

sábado, 22 de agosto de 2015

Novos Pensares 3


Poeiras suspensas,

turbilhões de ramos

desfigurados.







Movimentos na praça:

redemoinhos e diabos,

brincadeiras do vento.







Algodão-doce,

flocos de nuvens,

colírios nos olhos. 







Pensamentos à solta,

imagens marotas

se assombraçam. 





Poema na agulha,

fagulhas supremas,

feridas rimas. 







Incêndio

lambe na alma,

fogo de imprudência. 







Noite mal dormida,

corpo sonolento,

mente letárgica. 



 


Pequi do cerrado,

agulhas subjacentes

a sabor amarelo. 





Poema subliminar,

belas imagens,

haicais singelos. 







Macega, ondas, vento,

momentos amarelos,

sós e o silêncio. 







Eterno dilema,

gente vai, ou volta,

na roda da vida?







Nada aleatório,

acaso sobrevivente

ao descanso das horas? 







Relutância de morrer,

ou lutar luta vã,

irresoluta? 







Longe de ser santos!

Menos demônios, talvez,

melhor assim! 

Novos pensares 2


Árvores copadas:

vento brinca

de soprar ventanias. 





Verde novo,

folhas de esperanças,

ternuras de árvores. 







Azul se esconde

onde vazio do céu

é véu sem cor. 





Resplendente azul,

céu se descobre,

luz do meio-dia.  



  



Em que águas for,

rubro tinge o espelho

da mágoa. 





Amarelo tecido de sol,

ipês da mata

resplandecem à luz.





Cores do branco,

paz na bandeira,

impera. 







 

Sabiá infla o peito,

de graça, o canto,

respingos da chuva.



  

Garricha se veste de barro:

uniforme em cena,

coloridas penas. 







Crepúsculo,

céu usa fantasias

de carnaval.



  


Serra fuma,

fumaça da terra,

cheiro de chuva. 







Esfuma a terra,

neblina na serra:

chuva nos olhos. 



  



Escuro da mata,

vida se esconde,

pontualmente. 





Silêncio isento,

zunido no ouvido,

grilos barulhentos. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Nuvens Esparsas 7





Que tem a dizer

diga, rediga, sem freio,

mas não desdiga,

que é feio.







Até onde o espírito vai,

corpo não alcança,

se cança, se esvai,

sem mais tardança.







Titubeios,

se eu...

se eu tivesse...

se eu tivesse sido...

se eu tivesse sido outrossim,

que teria sido,

de mim!

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Novos Pensares 1



Bachô: “Uma pimenta / Colocai-lhe asas: / uma libélula rubra”.
“Velho tanque. / Uma rã mergulha: / barulho da água”.
Do discípulo Kikaku: “Uma libélula rubra. / Tirai-lhe as asas: / uma pimenta”.


Haicai: lampejo,
imagens engolem
instantes de tédio.



A rã de Bachô
deixa,de novo,
no poço, a calma.

                   
Desassossego.
Bachô mergulha
olhos d´água.  



Libélulas,
pimentas vorazes,
larvas criam asas. 


Inseto fecundo,
libélulas povoam
pântano amargo.                                                                                                                            



Moinhos abadonados
enchem-se de sentidos,
poemas curtos.


Nem nuvens no céu,
cimos desvelados:
azul profundo. 


Zás-trás de maldade, 
bomba H ascende
cinzas do vômito! 



Sem mais correrias,
prudência apascenta 
avarias de adeus.



Cuidado com os santos,
anjos da guarda! 
Balanços do andor.



Santo Antônio de costas,
fato bisonho.
Prova de amor ou sonho?



Deus vem com jeito,
Santo Antônio com gancho,
rede armada do rancho.



Cantar o amor,
sem emoção,
reclusão e dor. 


Chegada a hora,
morte não enrola:
degola e sai fora.