segunda-feira, 27 de julho de 2020

Migalhas de Mim (47)


Biografia numeral  (Para me fazer presente )

Meu número é 7, assim, sem corte
nem ciência, no pensar e feito do pai,
que me concebeu em 3 nomes de 7,
21 letras, bem espalhadas,
ao acaso do distendido alfabeto,
da devoção e avoengas deferências.

Sem b (de bastante ou brusquidão),
sem d (de dano ou duração),
sem f (de feiura ou fadiga),
sem g (de galope ou gastura)
sem h (de horário ou hesitação),
sem l (de lepidez ou lentidão),
sem p (de pressa, ou pecado),
sem r (de rasgo ou ruído),
sem v (de vez ou vencido)
sem z (de zás, zero ou zambembice).
sem exageros, rudes ou ríspidos.

Assim, pois, de nascença,
trago 27 de 7 de 47,
nomes de 7 em 7 mais 7 letras variadas,
para o caso de mais viver além de 77,
já, hoje, aos 70, com sorte garantida
na numerologia.

De igual modo, se aos 77
se ajuntem mais 7, e 7 com mais 7,
sabe-se lá, ainda de mente lúcida,
história mesmo transitória,
que me afaste a morte da memória,
haveria muito o que repor e julgar
do visto, ouvido ou vivido de enfeites,
do zero ao razoado zênite,
do zelo, no pintar dos 7,
das vivas cores,
dos tons fosforescentes,
dos desejos ardentes,
cabalísticos e bíblicos amores,
setenta vezes sete, viveria
de eternos deleites, 
muitos favores, sem dores.

sábado, 25 de julho de 2020

Migalhas de Mim (46)


Apresento-me como sou,
no passo dos dias, contradito,
com condicionantes, todavia,
e mais diferenças, à revelia
de vaga mente.
Soo como vento,
ora varro chão,
ora vago ar e me invento,
embora desatento, é vero,  
parcialmente;                  
voo como gavião,
ora raso, de muita pressa,
ora plano, de olhar atento,
avarento dos espaços,
diuturnamente;                          
perco-me em devaneios,
ora inconsequentes,
ora de anseios vários,
cheios de receios,
e mais componentes;             
caçoo das circunstâncias,
por saber-me de barro feito,
ora tijolo, já cozido e frio,
ora ainda no forno de calor
ardente;
magoo-me facilmente,
ora de levar vida discreta,
ora de pressentir riso secreto,
que me sabe de malícia,
subjacente;
encordoo-me de lembranças,
ora no sem-que-fazer diário,
ora na labuta necessária
da sobrevivência desejada,
polivalente;
recolho-me aos cantos,
ora como ente amedrontado,
ora como ser carente
de corpo e alma levados,
timidamente;
condoo-me nos dois sentidos
da palavra dada, escrita e falada, 
ora exata e polêmica,
ora, cordata e valente,
concomitantemente;
Assim, vou tecendo roteiros,  
à procura de traçado adjacente,
sem muito esperar resultados,
dos rastos penitentes que traço,
compassadamente.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Migalhas de Mim (45)


O relógio centenário,
pendente da parede do salão,
tal oratório-relicário,
quebra o silêncio da solidão,
bate bonito o infinito,
pau-sa-da-men-te.

Pena não poder bater,
a-le-a-to-ri-a-men-te,
sempre e somente
do-ze-ba-da-la-das-com-pas-sa-da-men-te,
sem ser por força das horas
ou do inventado tempo.

São atávicas, as lembranças
dos antigos donos,
cabelos, barbas brancas, olhar no céu distante
do avoengo sobrado,
há muito morto de idade
abandonado nas saudades.

domingo, 19 de julho de 2020

Migalhas de Mim (44)

Artistas enxergam longe,
vivem à larga,
além do horizonte,
sem maiores compromissos 
com o f/ato exato,
como sói acontecer
ao cientista paciente e pacato.

São, antes, a/gentes da luz,
e tudo lhes chama a atenção
e os seduz, incontidos 
no que produzem de imaginação,
de cabeça aberta, sentidos alertas,  
sem horário ou cara no chão,
sem encontro marcado ou encapuzados.

A qualquer piscar, até, de olhos,
põem-se de prontidão,
escrevem o que lhes dita a fé, 
em rascunho ou palma da mão,
com muita presteza de serviço,
como sói acontecer
com o que brota do coração.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Migalhas de Mim (43)


Por que uns e não, também, os outros?

Enquanto pobre luta, sofre, morre,
rico se asila, do aeroporto ao conforto,
e convive com festas e licores,
longe dos dissabores
da miséria alheia!

Enquanto pobre é forçado à guerra,
rico a incrementa com perigosas estratégias,
a abastece de alimentos, dilata os prazos,
cria armas, assiste ao massacre,
longe das fronteiras!

Enquanto pobre olha pro céu,
temendo que bombas e balas assassinas
caiam-lhe sobre a cabeça rifada,
rico vai com a família
ao cinema das tardes de Paris.

Enquanto pobre pega, na mochila esfarrapada,
marmita de boia fria, pisoteia enlameada trincheira,
rico se refestela com finas iguarias,
nos restaurantes de quantas estrelas,
da cidade luz.

Enquanto pobre cura feridas incuráveis,
tenta esquecer os maus momentos da refrega,
dorme, ainda, assustado com o ruído das bombas,
rico volta, de avião ou navio, ao país arrasado,
para colher os louros da vitória sem sentido.

Enquanto pobres, viúvas e órfãos de pequena idade
choram seus mortos soterrados no anonimato,
ricos assumem postos os mais elevados da governança,
da justiça, da saúde e demais órgãos de abastança,
ostentando nos peitos estufados medalhas da vã glória.

Enquanto pobres tombam no esquecimento,
ricos riem e mandam esculpir os nomes,
nos frontispícios da fama, cantos de ruas, monumentos,
e se autoproclamam heróis legítimos
da pátria reconhecida.

Mas, por que sempre foi assim, desde tempos inglórios da Historia,
enquanto o pobre se mutila ou perece, como coturnos surrados,
na reconstrução de igrejas, catedrais e palácios da posteridade,
clérigos, nobreza rezam uma prece pelas almas do purgatório,
candidatos a céu eterno, de muitos prazeres e angélicos sossegos?

sábado, 11 de julho de 2020

Migalhas de Mim (42)

À noite, ideias escurecem,
trevas ensimesmam,
encurtam a vista do ser vidente.
Esfriam-lhe os ânimos,
a visão não alcança o nariz,
a boca seca, só de pensar
no que possa revelar de emoções,
de soluções consequentes.

De dia, tudo se esclarece,
vão-se embora o medo,
o negativo, a passividade,
vêm a coragem, a vontade
de acontecer e de se fazer
não importa o quê
de mais positivo, de mais ativo,
de mais produtividade.

Pensa na paz, na superação,
em valores absolutos,
em como se pode ser capaz
de ultrapassar a pressa da luz,
vê gentes que vão e vêm,
pesa possibilidades,
com liberdade de expressão.

Luzes fazem se sentir mais perto
de um mundo de afazeres,
de buscas e sôfregas escapadas,
à frente da mente liberada. Mas...
há sempre quem ande no escuro,
sonâmbulamente, inseguro,
pois, apenas um ser consciente
é maduro e sabe diferenciar
ar puro, água mole e rochedo duro.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Migalhas de Mim (41)

Para cada vivente,
o tempo austero
difere no gesto,
somática
e psicologicamente.

Quem sofre se desespera,
em sentir o tempo
fugir da mão.
Não dilata,
nem se regenera.

Quem ama se exaspera
em sentir passar a hora
à espera, em que a seiva
da primavera
sobe e aflora.

Para quem já muito viveu,
o tempo não se recupera,
vai levando na garupa,
a galope,
a evidência da quimera.

sábado, 4 de julho de 2020

Migalhas de Mim (40)


Inúmeras belezas brasilis
se espelham na matriz
maternal natureza,
pra se ver e admirar,
por tão curto espaço de tempo
de vida onipresente, colorida,
de convívio salutar.

O céu todo se colore
no final das tardes,
nos alvores das manhãs,
nos meados dos dias quentes,
no afã de adocicar o olhar
do vivente atento,
caminhante consciente.

Flores distribuindo olores,
nos mais variados matizes
de árvores, rios, céus e mares,
no acinzentado das nuvens,
em união alegre de tons,
nos mais altos degraus e sons
dos alt´ares do vento.

No transporte das águas em gotas
e demais gerências de múltiplos
arco-iris enfeitados ao sol luzente,
primam todas as grandezas e fatores,
em duplas doses de amores ardentes,
que acalentam e povoam de riquezas
o país das raças de diversos valores.

No espelho de doçuras e cores,
na textura das tezes cunhantãs,
sacis, curumins, piás e guris, 
de plagas pampianas, sertanejas,
litorâneas, pantanosas, amazônicas,
de portes e larguezas que tais,  
sob céus assoalhados de algodoais.

No âmago de tudo isso,
sem quaisquer sinais de artifícios,
há os povos de sementes bastantes,
misturas de joões e teresas,
guaracis e potis, ivans e alices,
uanas e iangarás, hatices e samis,
corações em ações prolíferas,
na rara pureza dos cantos brasis.


sexta-feira, 3 de julho de 2020

Migalhas de Mim (39)

Indagações (3)

Por que o sexo,
mesmo reprimido,
dá prazer e vibração,
e é tão visado,
pelos sublimes prelados?

Por que, em sendo pecado,
tão extenso e profundo,
dele se origina toda
a força dos mundos?

Por que sempre, e até
ou quase-quase mais,
sexo é objeto e não sujeito
das razões contumazes?

Por que é consequência,
produto, fator absoluto
e não ato de alta qualidade
de poder fecundo?

Porque, sexe-mexe,
de tão imenso e controverso,
embora momentâneo,
é, na essência, casto instrumento
infenso a aparato adverso.

Mas...pondere-se, é certo,
há também muitos prazeres  
no dormir e no comer,
no beber e no vestir
no ouvir enlevada canção,
no sentir grande  emoção,
no meditar e no rezar,
no falar de amor, sem temor,
no ser devoto em oração,
que não sai só da boca,
mas vem de bem fundo
de coração diligente,
sem barulho, sem audiência,
só o silêncio profundo,
intenso como de amantes,
coerentes da sábia ciência
de viver, simplesmente!