sexta-feira, 3 de julho de 2020

Migalhas de Mim (39)

Indagações (3)

Por que o sexo,
mesmo reprimido,
dá prazer e vibração,
e é tão visado,
pelos sublimes prelados?

Por que, em sendo pecado,
tão extenso e profundo,
dele se origina toda
a força dos mundos?

Por que sempre, e até
ou quase-quase mais,
sexo é objeto e não sujeito
das razões contumazes?

Por que é consequência,
produto, fator absoluto
e não ato de alta qualidade
de poder fecundo?

Porque, sexe-mexe,
de tão imenso e controverso,
embora momentâneo,
é, na essência, casto instrumento
infenso a aparato adverso.

Mas...pondere-se, é certo,
há também muitos prazeres  
no dormir e no comer,
no beber e no vestir
no ouvir enlevada canção,
no sentir grande  emoção,
no meditar e no rezar,
no falar de amor, sem temor,
no ser devoto em oração,
que não sai só da boca,
mas vem de bem fundo
de coração diligente,
sem barulho, sem audiência,
só o silêncio profundo,
intenso como de amantes,
coerentes da sábia ciência
de viver, simplesmente!

Um comentário:

Rogoliveira disse...

Grande escritor das Minas Gerais,

O tema ainda é tabu, apesar da enorme diversidade de estudos e pesquisas existentes; apesar da modernidade que, de certo modo, "abriu" a cabeça das pessoas; apesar da moderação do conceito de pecado etc...
Desde remotas eras, o tema já provocou a condenação de muitos, inclusive um quase apedrejamento de uma mulher adúltera que, não fosse a intervenção do Mestre dos Mestres, teria sido morta por cometer (se é que cometeu!) um ato praticado por todos, às escondidas, porém por todos condenado quando era o outro que o praticava... Hipocrisia em alta dose!
No entanto, justo o Mestre dos Nestres, que nos presenteou com um conjunto de diretrizes, até agora incontestáveis (o Evangelho), não discriminava, nem censurava, tampouco condenava, seja lá quem fosse, mesmo aqueles considerados pecadores por força do sexo.
O Cristo nos deixou um grande ensinamento: ninguém tem a mínima autoridade moral para julgar/condenar/censurar quem quer que seja, visto que somos, ainda, Espíritos muito imperfeitos.
Parabéns pelo texto!!