segunda-feira, 29 de junho de 2020

Migalhas de Mim (38)



Ontem, a peste negra, agruras,
a gripe espanhola, sofrimentos.
Depois, tantas vezes de amarguras
dos anos de ódios descabidos,
armas caindo, mortes subindo,
aos borbotões, como em fervura
de ambições sem compaixões,
e a vida mantida como esmola.

Agora, o vírus corona assola,
tira o sono, corrói o planeta,
detona esperanças de melhores horas
pra humanidade que mais se isola,
sem representar saídas possíveis
que livrem os homens da desventura.

Há fome como tempero,
falta de comida, guerras fratricidas,
dores incontidas, desesperos,
gritos sofridos, cruezas em parcerias
com o medo medonho, sem tamanho,
tsunamis, terremotos, tufões,
meteoros anunciados, convulsões,
horrores sentidos a desamores movidos.

Amanhã, outros quaisquer flagelos
baterão à janela, desavisadamente,
balas perdidas, nunca sabidas
onde se escondem, onde se elaboram,
de onde partidas, para onde voam
desabridas, sem razões definidas.
À espreita, a suspeita de que tal vírus
voltaria para reforçar a luta pela vida.

A qualquer hora, pode vir a hora
de ir-se embora, sem delonga,
sem penhora com data finda.
Mas o pior de tudo, ainda,
é a depressão, sem solução,
que não leva jeito, como preceito,
por se alojar dentro do peito.

Um comentário:

Marina disse...

Belos versos para uma triste emoção, pai