terça-feira, 14 de maio de 2024

Migalhas de Mim (132)

 

Toda beldade envelhece,

padece do mal da idade,

que o tempo arranha

no corpo sedoso, suavidades,

na face, macia, aveludada,

até que o ânimo esfria

e o destino chega, à revelia.

 

A vida nasce, dura,

nunca perdura, na realidade,

que há mais gente futura,

vindo atrás, na estrada,

que sempre nos empurra,

mas não nos enfrenta,

que o eterno é caminhar.

 

Mas como há os amigos,

que a vida nos garantem,

até a porta certa, mais adiante,

já é sorte poder conviver

com a alegria, grande aliada,

a saúde, virtude e consorte

na sorte das vidas passadas.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Migalhas de Mim (131)

 História de Pedro e Aurora

Ora, cara Aurora, fui Pedro Último dos Quincas,

ou Pedro Quinto, nem bem mais correto sei,

com três filhos que lhe plantei no ventre fecundo

de todo amor do mundo, que sempre lhe devotei,

malgrado o terceiro, nem aos seus olhos chegasse,

que a morte, ainda no catre, sem luz, lhe ceifasse!

 

Depois, vieram os depois, e mais depois,

comigo, no casarão, me desfazendo da mente,

na solidão de quarto escuro, inclemente,

de cheiro até duvidoso, nauseabundo,

a purgar da rédea solta, do poder abandonado

do comando, dos punhos fracos e frágeis mãos,

por minha inteira falta de mais dura decisão.

 

O restante de amor foi-me secando a alma,

grabatário do que me sobrou de fôlego e ar,

segregado na vida inútil a que me sujeitei,

ou, do destino que me levou à fatal depressão.

 

Quem, Aurora, dos primeiros tempos festivos

se lembrará de mim, a cavalgar besta ruana, 

de boa sela, bem arreada, sem parelha, do meu gosto,


na liberdade e alegria de viver merecido posto?