quarta-feira, 30 de março de 2022

Migalhas de Mim (110)

 

Sempre o tempo passa.


A idade do homem prossegue apagando

certezas e seguranças de antiga sensatez.

Gentes titubeiam com medo de quase tudo,

falseiam passos em descompassos,

enfraquecidos e vacilantes pernas e braços,

frouxas as correias dos escudos  

e dos quantos laços.

 

Os sentidos mais se embaçam, no cansaço,

horizontes deixam de ser claros e largos,

gostos sabem sempre mais acres e amargos,

vistas pouco ou nada alcançam dos longes,

ouvidos passam a dar ouvido a silêncios, 

que nem, um tanto, deles se enternecem

no sensato imediato.


Vive-se de arrepios, arremedos, enganos,

o tato não é, assim, tão exato nos cálculos,

mãos ficam perdidas nas contas dum rosário 

de desgastados anos de ideários. Hélas! 

Não se é mais, nem por conveniência, 

tão loquaz ou, sobremodo, humano, capaz,

nem um pouco sagaz.