Sempre o tempo passa.
A idade do homem prossegue apagando
certezas e seguranças de antiga sensatez.
Gentes titubeiam com medo de quase tudo,
falseiam passos em descompassos,
enfraquecidos e vacilantes pernas e
braços,
frouxas as correias dos escudos
e dos quantos laços.
Os sentidos mais se embaçam, no cansaço,
horizontes deixam de ser claros e largos,
gostos sabem sempre mais acres e amargos,
vistas pouco ou nada alcançam dos longes,
ouvidos passam a dar ouvido a silêncios,
que nem, um tanto, deles se enternecem
no sensato imediato.
Vive-se de arrepios, arremedos,
enganos,
o tato não é, assim, tão exato nos cálculos,
mãos ficam perdidas nas contas dum rosário
de desgastados anos de ideários. Hélas!
Não se é mais, nem por conveniência,
tão loquaz ou, sobremodo, humano, capaz,
nem um pouco sagaz.