sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pensares a conta-gotas (105)


O dinheiro é sem coração,
deixa sem opção o pobre
que, se correr, o bicho pega,
se parar, com fome,
o bicho é homem.

Há desconto pra tudo,
na luta do vale-tudo da injustiça,
menos pra dinheiro lavado,
isolado de cortiça.

Questão de desrespeito
ou de vergonha e contrafeito,
o valor da pecúnia alienado?

Quanto vale o picolé,
artefato apenas perfumado,
no carrinho do pobre coitado?
Se um real, paga-se oitenta.

Quanto, o carro contrabandeado?
Cem mil? Leva-se por oitenta.

Qual o valor do apartamento,
mobiliado em madeira condenada?
Se quinhentos mil,
Compra-se por quatrocentos e quarenta.

Do iate decorado
com salários desregrados?
Um milhão? Tem-se por oitocentos mil,
de dinheiro facilitado.

A quantas anda a dívida da nação?
Um bilhão? Paga-se com rolagens,
e juros escorchados,
seguros e mais apuros da população.

Deve-se pouco? Vai-se para a prisão.
Paga-se com perda da identidade,
da idade a ser bebida e comida,
com dormida na iniqüidade,
e o tempo moldado na preocupação.

Deve-se muitos milhões? Aguarda-se em liberdade,
nas mais confortáveis poltronas e vantagens:
responder, de cara lavada,
os inquéritos de magistrados,
bem educados na certeza da impunidade,
resguardar-se no estratégico silêncio das leis,
à sombra de bem treinados bacharéis,
sem devolução de luxo injustificado.

Qual o preço da consciência, do pecado,
da missa perdida, do culto manipulado,
dos desejos satisfeitos, do uso da contravenção,
do cônjuge infiel, da omissão nas injustiças sociais,
da conivência nas mortes inocentes,
do desperdício de alimentos oferecidos,
da complacência com dirigentes indecentes,
das vestimentas suntuosas, no ouro guardadas,
da ostentação de guardas engalanados,
das pedrarias valiosas nas confrarias de iguarias,
mesmo que luzidias de tão caras,
de tão finas e frias?

O mundo é bem louco!
Do pequeno, tira-se o muito,
Do grande, tira-se o pouco.
Quanto mais alto o preço,
maior o valor do desconto.
Quanto maior a dívida (no posto),
maior a indulgência (no encosto).
Quanto maior o crime (assumido),
mais gratificante o castigo (infligido).
Quanto menor o valor do ser humano,
mais o mundo se mostra desumano
Quanto maior o pecado  
maior a complacência do prelado.

E Deus, como é que fica,
diante de tudo isso? Omisso,
avaliando prévios compromissos?

Um comentário:

Rosa disse...

Querido amigo, confesso que não consegui "alcançar" sua viagem. Realmente, se fomos feitos à sua semelhnaça e imagem, Ele também deve ter o livre arbítrio. Fazendo uso dele será que desistiu da sua criação, tão decepcionado ficou? Sõa os mistérios da vida, que acredito jamais encontraremos respostas convincentes. Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Será que somos, viemos e vamos para algum lugar? Você deu um nó na minha frágil cabeça. Beijos