segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Pensares a conta-gotas (216)


Naquele ponto, todos se encontram:
o doutor, de diplomas nas paredes,
nas redes de conhecimentos infalíveis,
aos olhos pacientes do zé do povinho,
vendedor, de poucas experiências,
de picolés e cachorros-quentes,
e mais bugigangas que traz nas mangas. 

Lá vêm o padre, de latim e broncas,
de sermão, na ponta da língua;
o santo, de dedo em riste,
apontando o infinito do espaço e do tempo;
o pecador, de olhos no chão, sob véus,
urdindo, de antemão, desculpas aos céus;
o crédulo, com medo de cemitérios,
e castigos eternos, sem qualquer remissão;
o cientista, de razão imaculada,
cheia de mistérios, sem solução. 

Dali em diante, a viagem
é só de silêncios, sem luxos e distinção,
sem avarias de motor,
nem paradas no caminho,
sem destino certo, sem precedentes,
em espaços frios ou candentes. 

Não haverá vazios, desprovidos de vidas,
somente lugares insólitos, inauditos,
de luminescências de estrelas, as mais belas,
planetas inimagináveis de novidades,
com gentes em idas e vindas, sem revistas,
a se perder de vista.

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