domingo, 11 de setembro de 2011

Pensares a conta-gotas (33)

As fotos da vida

O velho vê na fotografia
um passado de puras alegrias,
a escorrerem pelas fendas do tempo
com a certeza de chegada
às escorregadias águas do rio-vida.

Um desconforto oprime-lhe o peito,
já quase desfeito, de tanta luta,
se dividindo entre saudades
e os rígidos preceitos de conduta
da antiga labuta da confraria.

A idade não mais lhe cobra
ir atrás de felicidade imatura,  
passada e pouco vivida,
impressa nos olhares inocentes
de gáudios juvenis de antigamente.

A juventude era ingênua, desavisada,
nos anos breves, nos fatos raros,
que pouco pesavam como conselhos
sobre braços, mãos e jovens joelhos,
movidos sem medicinais reparos.

Agora, nem uma hora lhe sobra
na busca de assento seguro,
nas dobras do pensamento maduro,
que, célere, se evade no remanso
das águas em gotas do esquecimento.

As fotos apagar-se-ão com ele,
efêmeras, soltas como as lembranças
dos parentes mais próximos,  
herdeiros apenas dos gostos
das circunstâncias sem fianças.

Ninguém mais as recolherá,
em caixas de guardados documentos.
Talvez as descartará o lixeiro,
com outras mais, suas iguais,
no seu último ardente paradeiro.

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