domingo, 28 de outubro de 2012

Pensares a conta-gotas (151)


Ora doce, ora insulso ou amargo,
carrego momentos escassos,
em percalços ambíguos e lassos:

Ora tímido, ora palhaço,
enrubesço-me do que faço,
fujo de beijos e abraços;

Se finjo, sou como corda de aço,
não externo ar de mormaço,
esfrio no espelho os pedaços;

Se chego a desenho, sou o traço,
do rabisco, mero embaraço,
projeto de moradas, sem o paço;

Se galgo muralhas e ameias,
sou como amarras sem o laço,
ameaço ser torre, e sou terraço; 

Barco, que parte de porto-regaço,
sou a vela, o cordame crasso,
o mastro, ao vento, flácido.

Por onde me resto, às pressas,
nasço, cresço, vivo, renasço,
ou, simplesmente, venho e passo?

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