A Mulher de pau
A vida nos reserva fatos que mais nos fazem relembrar do que esquecer . Por isso mesmo difíceis de se calar ou de não se escrever . Um desses foi o ocorrido, há tempos , em um recanto mineiro, que, não fossem os preconceitos sociais de colorações diversas, nenhuma repercussão teria merecido. Mas vamos ao caso, que tardar seria menos falta de complacência que de clemência.
A notícia correu a cidade : um homem tinha sido preso , e o crime caracterizava atentado ao pudor e aos bons costumes. O acusado, morador na roça , sozinho , desgraçado da sorte , vivia isolado dos demais seus congêneres. Seus hábitos arredios pareciam excêntricos , e acabaram por chamar a atenção dos vizinhos. Algum moleque, à surdina , foi inspecionar o que o ermitão fazia em casa , naquela solidão de casebre de telha colonial e janela de tábua frestada, o mais das vezes fechada. E o olhar do curioso pôde divisar o que lá dentro se passava. O esquisitão confeccionara uma mulher de pau , de tamanho natural , tosca , que expunha na altura da genitália , um avantajado óstio. Por ali , satisfazia as necessidades, quando carecia de carinhos.
Enquanto isso, insatisfeitos com a pouca divulgação de tão inusitado fato , nascido de um tão bem resguardado segredo , os moradores do lugarejo deram com a língua nos dentes em lugares mais adensados. Foi como espalhar ao vento as penas de um pato gordo. Corrida a notícia , a polícia foi instada a prender o ardiloso acusado. Seu crime merecia a execração pública, já que satisfazia suas naturais carências de prazer , com os tais engenhosos artifícios , no lugar de procurá-los, como todo mundo, nas bênçãos dos altares, cartórios ou lupanares.
Agora, o acontecido nada mais servia do que proporcionar prazeres às imaginações de pessoas de cabeças tão ocas quanto o buraco cavoucado no tal manequim de madeira. Naquela altura dos acontecimentos, nem as divindades seriam capazes de recolher as plumagens esvoaçantes da difamação. Talvez um Freud fosse capaz de explicar o quanto o ser humano carece de satisfazer as humanas necessidades , e ser o sexo, assim, tão indispensável, para regular o equilíbrio humano, tanto para os que o tem em profusão, quanto para os que dele carecem em perdição. Os sex-shops e a filmografia correlata, com tão grandes presenças e inovações nos dias correntes, poderiam ilustrar melhor esta busca de respostas para tais indagações.
Do fim que deram ao desequilibrado homem não se tem notícias . Presume-se que o coitado tenha sido solto, regressado ao seu abrigo, para gáudio das malícias e maledicências de quantos desconheceram as saudáveis regras da convivência dos contrários e dos carentes .
Quem sabe,
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