sábado, 19 de maio de 2012

Pensares a conta-gotas (101)

Quanta dor, quanto sofrimento,
quanta morte, quanta injustiça, quantos tormentos,
o butim da construção desses belos monumentos,
onde, agora, rezo arrependida e sofrida oração
aos quantos pisoteados Josés,
e às tantas Marias penitentes, sofredoras, ralés,
que pariram os mortos do Poder, da vaidade e da ambição.

O que vale a admiração
de tanta beleza, de tanta arte,
de tanto empenho, de tanto engenho,
se renego os quantos atos insensatos
que se fizeram de sangue pelo trabalho bruto,
e o sofrer das gentes, até o morrer por inanição,
indigentes?

Rezo solitário, no descampado dos cerrados,
pela cartilha do natural rosário de recatos,
onde a presença do homem ainda é rala,
porque ainda sem o exercer, autoritário,
do poder de destroços das usinas,
das perdas, das dores, da sina,
do luto das ruínas.

Mas, a natureza e as energias as mais limpas,
as mais harmônicas, as mais justas e nobres,
não haverão de escapar ao instinto fatal
desse homem corrupto, de espírito pobre e letal,
acostumado a converter jardins em desertos,
por razões de essência e existência,
por atos de insânia completos, tidos como certos.

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