quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Pensares a conta-gotas (249)


A poesia foge da corda,
da forca, da força bruta,
da forja, da bigorna
e do martelo.

Mas se extasia e exalta
a luta com os elos
de gemidos e gestos
ligeiros do ferreiro.

 

O que me valem os desejos,
se os ensejos menos se realizam
com o proveito esperado,
se o que vejo já não me vê direito,
nem lampejos são opções
para as ações que almejo? 

O que valem os profetas,
sem a quem dizer profecias,
em seus países ou fora deles,
se já não denunciam o que foge às regras,
como em relatos remanescentes,
nos espaços de tragédias gregas? 

Estariam os amantes das Artes
confinados, como gados,
desencantados dos novos tempos,
cada dia mais segregados,
fora dos acontecimentos? 

A tecnologia ofereceria
soluções totais, imediatas, “on line”,
aos que alimentam mais corpos
e cabeças ao vento, do que substâncias,
nos relacionamentos? 

Onde o suposto tempo economizado,
a paz prometida, o lazer multiplicado,
o esforço micro, o avanço direcionado,
o espaço absoluto e, sobretudo,
o somatório disso tudo? 

O Homem deixou de ser maiúsculo,
para ser apenas mais ensimesmado,
mais restrito a universos minúsculos,
adjetivados, rendidos, apequenados,
diminutos? 

Fala-se mais em sinais dos tempos,
mas o que se vê são tempos dos sinais
anormais, excepcionais, desiguais,
para portadores de necessidades especiais
a servirem de alimentos ao confinamento.

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