sábado, 13 de março de 2021

Migalhas de Mim (83)

 

Dos milhões que já morreram,

morrem, desaparecem, se exalam

em campos de batalhas e maldades,

só se conhece o relato inexato

na com/versão dos sobreviventes

das inenarráveis atrocidades.

 

Nas guerras que ainda virão,

não quero estar, com toda a certeza,

entre os que morrerão de heroísmo,

para admiração, como se dizia,

dos que não morriam por paixão:

“Ave Caesar, morituri te salutant!”

 

Os monumentos, “ai caduti”,

e aos que não mais voltarão das lutas,

comprovam o desconhecimento

dos salvos-condutos do fatalismo da sorte.

A história é uma, para viventes aflitos,

outra, para caducos dos conflitos.

 

Quem escreve as tais memórias?

Quem se vale de supostos elogios

aos caídos que não conheceram?

Quem sabe das vidas sem identidade?

Quem as ouviu contadas pelos vivos,

sem coroas de flores das solenidades?

 

Do que se escreve das absurdas mortes,

nunca se saberá de nascedouro confiável.

De nenhum santo ou soldados tombados,

incógnitos de ares carentes “condoídos”,

ainda não se revelaram razões de bondades

dos martírios ou velas acesas de altares.

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