sexta-feira, 21 de junho de 2013

Pensares a conta-gotas (201)


Nada que o tempo não desgaste
ou arrebente,
nosso corpo, nossa mente, nossos dentes,
nossa pele, nossa face, nossas lentes,
nosso ventre, nossos dedos,
nossos dedinho e dedão,
nosso nexo, nosso sexo, nosso amplexo,
nosso coração. 

A carrapeta gasta, a torneira vaza,
a água suja, a roupa não lava, o ar escava,
a terra cansa, o vento espanta, o fogo destrói,
a fumaça arde, fede, polui, corrói,
as pernas não mais sabem a dança
e cansam.                            

O parafuso espana, a rosca da porca arrasa, a viga cede,
a casa cai, o telhado se assombra, a coragem se esvai,
e sempre será preciso comprar uma peça a mais
para a engrenagem não parar.
Só o espírito não envelhece,
permanece, embora migre,
que viver aqui não é mole,
mas a gente concebe e engole.

Nenhum comentário: