terça-feira, 15 de setembro de 2020

Migalhas de Mim (59)

                                                             In vino, veritas! In médio, virtus!

“Pulchum est quod visum placet” (Tomás de Aquino)

 

Entidades dominantes condenam prazeres.

Corpo pede conforto, lassidão, necessidades.

Seis sentidos regem sete pecados capitais.

Lei do menor esforço, acomodação e complementos.

Animais obedecem, humanos reprovam instintos,

que enfraquecem almas, perdem guerras,

destroem impérios, recriam labirintos.

 

Cale-se a voz dos sentidos

(visão, audição, olfato, paladar, tato, intuição).

Acalmem-se os pecados capitais

(gula, preguiça, luxúria, orgulho, avareza, inveja, ira),

vias por onde adentra a perdição!

 

Silenciem-se as gritas do corpo,

frades místicos se mortificam, ciliciam-se!

Sexo vê, desejos ouvem, perfumes extravasam,

sabores absorvem, carícias afagam,

sentimentos afloram, beijos comem línguas,

engolem o outro, como procriam insetos no cicio.

 

Instinto intui potencial de possibilidades,

com certezas de que o ser é sempre capaz.

Deus foi quem deu a vez e os vieses do sentir,

para o bem da humanidade.

 

Belezas visuais, gêneros, indistintamente.

Flores, estames, pistilos, anteras, vagens, cores,

palavras, letras, cantos, esculturas gregas, et alii.

Artes cultuam os órgãos genitais,

reverências no respeito das espécies,

que o homem primitivo perpetua,

na sacralidade e saciedade do sexo.

 

Sociedades, no conjunto de leis coercitivas

inibem os divertimentos e os apelos sensoriais.

O pecado requer matar o próximo,

a criação e a vontade divinas.

Os males advêm da privação dos desejos

de quem procura alegrias e farturas, sem pejo.

Por que de fora sexualidade, prazeres, procriação,

tudo tem nexo, por essa vastidão de mundão de Deus,

côncavo e convexo, universo chamado de céu?

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