O dinheiro é sem alma, sem coração,
deixa pobre sem opção,
que, se correr, o bicho pega,
se parar, de precisão, de fome,
o bicho é homem.
Há desconto pra tudo,
na luta das injustiças,
do vale-tudo desenfreado,
menos pra dinheiro desregrado,
igualado na cobiça.
Questão é de desrespeito
contrafeito no valor, em inteiros
ou avos,
da penúria, da pecúnia,
dos bens alienados?
Quanto vale o picolé de coco
do menino pernalta, esfomeado,
artefato apenas perfumado,
empurrando carrinho de coitado?
Um real? Paga-se oitenta centavos.
Quanto, o carro
contrabandeado?
mobiliado em madeira
de lei, condenada?
Quinhentos mil? Compra-se por quatrocentos.
O iate
decorado, a salários desconcertados?
Vale facilitado um milhão?
Tem-no por
oitocentos mil,
de dinheiro
em banco, facilitado,
catados a rodo, ou de aluvião.
A quantas andam a dívida da nação?
e infinitos juros
escorchados,
seguros e mais outros apuros
da desbastada população .
Deve-se pouco? Vai-se amargar a prisão .
Paga-se com
perda da identidade,
da rala idade bebida com pouca comida,
com cama exígua, iniquamente dormida,
e tempo moldado de preocupação.
assentado em fofas poltronas e
vantagens:
responde-se, de cara deslavada,
a inquéritos de adestrados magistrados,
administrados na certeza das
impunidades.
Os devedores se resguardam infiéis,
no silêncio estratégico das leis,
à sombra
de bem remunerados bacharéis,
sem devolução de luxos desfrutados,
injustificados perante os céus.
II
Qual, então, o preço
da consciência, do pecado,
dos ofícios perdidos, dos cultos
manipulados,
dos desejos
satisfeitos, do uso da contravenção,
do cônjuge infiel, das injustiças sociais, da omissão,
da conivência
nas mortes indiretas de inocentes,
do desperdício
de alimentos excedentes,
da complacência
de dirigentes indecentes,
das vestimentas suntuosas, do ouro resguardado,
da ostentação
de guardas engalanados,
das pedrarias valiosas nas
confrarias de iguarias,
luzidias de tão caras, de tão finas,
de cores frias ?
Do pequeno, tira-se o muito,
do grande, quando se tira, tira-se
o pouco.
maior o valor
do desconto.
maior a indulgência
(no imposto).
mais insignificante o castigo
(infligido).
mais o mundo
se mostra desumano.
Quanto maior o pecado,
maior a clemência do prelado.
III
O mundo é bem irremediável e louco!
E Deus, como
é que fica, em tudo
isso ?
Afastado, indeciso, omisso,
só avaliando intrincados compromissos
de irresponsáveis juízes?
Ou, talvez, sejamos tão somente aprendizes?
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