sábado, 5 de agosto de 2017

Ainda a consciência

(Relembrando tempos idos)

Deus me vê, me aclara,
não me censura, cuida,
nem lhe cabe condenar.
O olho de Deus
não conhece mau-olhado,
nunca foi triangular,
severo, oblíquo, raivoso,
dissimulado. 

Bondoso, sempre, foi,
com muita vontade
de ajudar, o pobre coitado.
Não me olhou, desde o sacrário,
no banheiro, ou sanitário,
para evitar
o vício solitário. 

Nem enxergou, malsim,
no escuro do confessionário,
pensamentos culpados,
resistentes,
noturnos, reincidentes,
como a consciência de Caim,
no sombroso refúgio carcerário. 

Penoso é julgar um condenado
dentro de vedada muralha,
assentado numa cadeira fria,
rígido, encolhido, inseguro
na sombra profunda,
como foragido verdugo,
em “ La Conscience”,
poema escuro de Victor Hugo.

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