quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Pensares a conta-gotas (242)


(De San Vito dei Normanni, Puglia, Itália, meados de outubro/13)
 
Cidadão do mundo, minha pátria é onde moro,
uma vida, um ano, uma hora, o tempo que demoro,
onde falo a língua dos gestos de todo o mundo,
o que danço de alegrias, ao ritmo fundo da vida,
que consumo do mundo,
onde me acontece entristecer, rir ou chorar,
com o coração e a alma das coisas
que me rodeiam, no mundo,
onde ando, abraço, até o vazio do ar,
na força das pernas, dos braços, 
e aperto as milhares de mãos estendidas,
olho no fundo dos olhos,
com os olhos mais abertos, do mundo,
que me engloba as todas medidas. 

Se, agora, mesmo, moro do outro lado
desse mundo redondo, sem fim nem início,
e não me pergunto de que lado moro,
que hei de voltar a habitá-lo,  
ora aqui, ora acolá, ora depois, ora já,
vestido nas cores de peles, que me possam vestir,
ou que julgar querer usar,
as brancas, as negras, as vermelhas, as amarelas, as ocres,
e as de mais tons da terra que me cobrirá,
ou, até, as de nenhuma cor, opacas e fracas,
sem transparências ou aparências,
as de mais intensidades das dores,
que me haverão de acompanhar
nestes périplos de sempre ir e voltar
de tantos vagares,
preciso aprender a me esperar. 

Por que brigar por um quinhão do torrão,
que nem me pertence, nem me pertencerá,
que me comerá nas cascas, nas costas, nas polpas,
os caroços, os destroços dos ossos,
e deixará a ínfima parcela de energia
que, de mim, haverá de desprender,
e, depois, continuar?
 

Estas oliveiras vetustas, de pernas tortas,
de copas decompostas, centenárias,
que, nesses dias de advento,
me circundam os olhos,
conhecem mais segredos de vidas e coragens,
do que podem imaginar
meus excitados pensamentos. 

Desde quando, de que remotas eras,
sentem, elas, ancestrais,
calejadas mãos lhes afagarem os frutos,
promissores rebentos,
em louvores à nobreza do suco,
alimento de tantas almas,
que, por aqui jogaram, de passagem,
sementes de mais vidas? 

Dessas terras úberes,
esse torrão jamais se cansará
de abrigar sóis ou chuvas,
frios ou ventos, aluviões
nutridos de ideias e coragens,
que, sempre, garantem, persistentes,
o sustento das criações.

 

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