quarta-feira, 29 de maio de 2024

Migalhas de Mim (134)

 

Tiveste às mãos e coração,

em plena madurez de alma e corpo,

a mulher na plenitude da beleza e saúde,

quando em ti imperava a fortaleza

do ímpeto em pleno instinto da natureza!

 

Mas pouco soubeste, às vezes, dosar

os adequados e inerentes movimentos,

nos melhores dos momentos,

para um intencional amor bilateral,

sem quaisquer adjacentes sentimentos!

 

A mulher não pode ser objeto,

sem obter os melhores dos afetos.

Exige saber, porém, a exata porção

da íntegra emoção e atitude correlata,

da descombinada entrega sem data!

 

O casamento, parece, impede o exercício

do amor verdadeiro, sem regra, tempero

e desagrado, na contenção de gestos feros,

em desacordos do ritual do amor sincero,

com lugar, hora e mistérios apropriados,

para ser intenso, total e inteiramente vero!

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Migalhas de Mim (133)

 Língua, línguas minhas, consoantes e vogais,

e mais límpidos timbres e tons,

às sonoridades misturadas,

almas portuguesas, medievais, greco-latinas, Américas,

índios, Índias, Áfricas, bantos,

tupis, guaranis, tapuias, tamoios, tupiniquins, carajás,

ignotas e vivas nheengatus, ianomamis, amalgamadas,

povos, óvulos, ovos oriundos de variados mundos.

 

Raças alhures adversas, de diversas graças,

por aqui aportaram ou aportam e quedam,

e exportam valores universos,

amores, sem cores, sem compressas,

de mais calorosas conversas.

 

Língua de astros, de esses e sisos,

ósculos e fusos, usos e risos, lisos

de texturas e culturas, que aos ouvidos agradem,

de retratos, de almas e asas,

corações, razões de mais misturas.

 

Na fala dos amantes do belo e dos elos,

do lápis, do ouvido singelo,

mudem-se as incongruências de sons já corroídos,

de cidades, pontes, ruas e rios,

e os demais acidentes geográficos,

por correspondentes sons bantos, iorubás e indígenas,

bem mais puros, doces, próprios, nossos 

bem mais reais, musicais e imparciais

nos colóquios, in bloco e nos gerais. 

terça-feira, 14 de maio de 2024

Migalhas de Mim (132)

 

Toda beldade envelhece,

padece do mal da idade,

que o tempo arranha

no corpo sedoso, suavidades,

na face, macia, aveludada,

até que o ânimo esfria

e o destino chega, à revelia.

 

A vida nasce, dura,

nunca perdura, na realidade,

que há mais gente futura,

vindo atrás, na estrada,

que sempre nos empurra,

e nunca nos enfrenta,

que o eterno é caminhar.

 

Mas como há os amigos,

que a vida nos garantem,

até a porta certa, mais adiante,

já é sorte poder conviver

com a alegria, grande aliada,

a saúde, virtude e consorte

no porte das vidas passadas.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Migalhas de Mim (131)

 História de Pedro e Aurora

Ora, cara Aurora, fui Pedro Último dos Quincas,

ou Pedro Quinto, nem bem mais correto sei,

com três filhos que lhe plantei no ventre fecundo

de todo amor do mundo, que sempre lhe devotei,

malgrado o terceiro, nem aos seus olhos chegasse,

que a morte, ainda no catre, sem luz, lhe ceifasse!

 

Depois, vieram os depois, e mais depois,

comigo, no casarão, me desfazendo da mente,

na solidão de quarto escuro, inclemente,

de cheiro até duvidoso, nauseabundo,

a purgar da rédea solta, do poder abandonado

do comando, dos punhos fracos e frágeis mãos,

por minha inteira falta de mais dura decisão.

 

O restante de amor foi-me secando a alma,

grabatário do que me sobrou de fôlego e ar,

segregado na vida inútil a que me sujeitei,

ou, do destino que me levou à fatal depressão.

 

Quem, Aurora, dos primeiros tempos festivos

se lembrará de mim, a cavalgar besta ruana, 

de boa sela, bem arreada, sem parelha, do meu gosto,


na liberdade e alegria de viver merecido posto?