quinta-feira, 11 de abril de 2024

Migalhas de Mim (130)

 

(De Nice, 15/3/24)

 

Não há ninguém a quem se perguntar,

nem a se explicar,

apenas você e a máquina

fria, senhora de si,

e da insensibilidade.

 

Não há ninguém com quem se privar

de relações de ajuda mútua,

que ficaram no passado.

Agora, só você e a máquina

fria, senhora de si e da artificialidade.

 

A recompensa da convivialidade

já não mais compensa,

ficou no papel amarelado, rasgado,

amarfanhado dos tempos

sempre mais escassos.

 

Com desconhecidos e estranhos

não se gasta saliva e cansaço.

Agora, só se conversa com a máquina

fria, senhora de si e das desconfianças

sem vistas à alteridade.

 

Até quando amizade sem resultados

rápidos, individualizados!

Pobres homens sem vizinhos,

se precisarem uns dos outros,

num repente,

nem a presença de próximos parentes!

Um comentário:

Eugenio Estevam Batista disse...

« máquina fria » não pode ser mais angustiante. Com Camus, « é preciso imaginar Sísifo feliz ».