Velho cimento
Assim era meu corpo nu
aquecido do seu corpo num
só conjunto de calores
úmidos de sal e suores
de ofegantes amores.
Esse um já foi comido
de olhares vorazes
em tempos há muito idos
quando de tecidos lisos
recobertos de pendores
os regavam fé e favores.
Mas, agora, ora!
anda muito resumido
da cabeça aos pés
pedaços sem abraços
tronco alquebrado
sem ação, sem aço
membros impotentes
conformes nos traços
ventre evidente, disforme.
Cabeça esquecida, desnudada
crânio ofuscado
face chupada, descorada
boca incontida, inconfidente
queixo afunilado, proeminente
olhares distantes
pescoço afilado, desequilibrado
sentidos distraídos
ares perdidos nos instantes.
Peito encolhido, murchando
costelas-palito, emergindo
braços largados, alquebrando
cotovelos-graveto, partindo
mãos pingentes, pesando
dedos sempre pedindo frentes.
Dorso cadente, corcovado
pele de maracujá, enrugada
veias enroladas, caracóis,
pernas-cambito polidas
joelhos anquilosados, pesados
pés dormentes, pisados
artelhos de nós, enrolados
perfil varado sob lençóis.
Triste fim adjetivado
para quem já foi gente graúda
ser mais substantivado
de rompantes tonitruantes
de dons reais, edificantes
de quilates tais, até estéticos
agora esqueléticos, indiferentes
na poeira ignota não reagente.
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