quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Cantos e (des)encantos (18)


Recuso-me a creditar meus olhos
tão míopes no desacostume de ver!
Em minha frente estás realmente
ou são meus sentidos em sonhos
que reclamam teu corpo de mel
e melado, incessantemente?

Meus ouvidos pernoitam a tua voz,
se desfalecendo em suspiros
buscados no céu da boca faminta,
e tua saliva rara
umedece minha face,
os lábios avaros.

Recordo teu acre perfume
exalado de profundezas molhando desejos,
onde brotam rios de matas ralas
e escuridões,
onde aqueço minhas mãos finas
e trêmulas,
onde me queimo os dedos em fogo
e mormaço,
e sacio minha sede de ser sempre sedento
de teu corpo túmido, se amolecendo cansado
de tuas forças estremes, se esquecendo rígidas
sobre meu peito arfante,
exaurindo-se e vencido.

Topógrafo de montes e vales
e grotas profundas e quentes,
meço distâncias, na ânsia da maior distância,
busco aninhar-me em grutas escondidas,
reentrâncias de encostas e escarpas frementes,
vastidões de doces e úmidas planícies,
para ao final encontrar a calma que meu ser reclama,
em relevos que teu corpo de fendas e montes derrama,
tal vulcão que me envolve, revolve e petrifica.

Nenhum comentário: