quarta-feira, 16 de março de 2016

Nuvens Esparsas (21)


O poema nasce temporão,
intempestivo, espontâneo,
como brota de flor-botão,
(o fruto),
como se fura do veio do chão,
(a água),
ao se querer buscá-la,
no fundo da silente solidão,
no meio das pedras lajes,
no escurão espesso que encerra,
(a terra).

O plano extrínseco do texto,
de começo, meio e fim,
surge na perfuração do fosso,
(a vala),
na extração do poema-água,
(a teima),
no passar do desejo à fúria,
na força do líquido-elemento
ao querer galgar à superfície,
ao rés de luminosa plaga,
(a planície).

Pronto o poço, águas se ajuntam,
no concerto dos detalhes,
como se olha no brilho do rosto,
(a demora),
no retoque de repassar da mão,
(o gesto),
no, ainda, desprendido instinto,
do leitor, no labor de desvelar
evanescentes caminhos que levam
a imagens-reflexo de espelho
(da água).

Nenhum comentário: